5 de jun. de 2008
VERGONHA
SOB AS ORDENS DO IMPERIALISMO
A intervenção no Haiti objetiva restaurar os bons tempos do governo semicolonial de Papa e Baby Doc e aumentar a pressão sobre Cuba, Venezuela e Argentina, que se nega a pagar incondicionalmente a nota escorchante apresentada pelos banqueiros europeus e norte-americanos.
O drama colonial do Haiti apresenta pouco de novo, à exceção da esdrúxula ação do governo Lula da Silva que, sem consultar o parlamento nacional, verbalizou a intenção de enviar 1.100 homens e eventualmente dirigir, em nome dos franco-americanos, a segunda etapa da intervenção no país. Sempre sob a bandeira da ONU, é claro.
São conhecidos os objetivos políticos da decisão irresponsável. O governo brasileiro almeja conquistar o apoio norte-americano a sua reivindicação de ingresso como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, no caso de eventual reforma do organismo. A proposta apóia-se no pretenso status internacional do Brasil.
Tamanho não é documento
Reivindicação que circunscreve a imensa irresponsabilidade do governo e dos articuladores da política externa nacional. Atualmente, o governo Lula sequer detém o controle dos destinos da nação, realidade materializada na incessante desnacionalização da indústria brasileira, na entrega do Banco Central a interventor do capital financeiro mundial, na submissão rasteiras aos ditames do FMI.
Nessas condições, um hipotético ingresso do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança ensejaria apenas que os exércitos nacionais se transformem em guardas pretorianas do grande capital mundial. Realidade que facilitaria eventuais intervenções em regiões da América Latina onde cresce a insurgência social e popular, como a Argentina, a Bolívia, a Colômbia, a Venezuela.
A decisão de Lula da Silva deu-se paradoxalmente na ausência de qualquer exigência franco-americana, ao contrário do ocorrido no início dos anos 1950, quando o presidente norte-americano Harry Truman espremeu duramente e retaliou o governo brasileiro para que participasse da intervenção multinacional na Coréia, também sob os auspícios da bandeira azulzinha da ONU.
Tempo de homens minúsculos
Na época, contra a opinião dos ministros da Fazenda e das Relações Exteriores, Vargas negou-se terminantemente a participar de aventura político-militar que não interpretava interesses do Brasil, elevados ou mesquinhos. As nações latino-americanas que enviaram tropas para o front penaram mais de quatro mil mortos.
Além de criminosa, a intenção do governo Lula é mesquinha. Ela planeja obter o bônus do apoio ao imperialista sem incorrer em qualquer ônus, ao enviar tropas brasileiras apenas após a pacificação da oposição popular ao governo fantoche haitiano imposta pelo tacão militar franco-americano.
Os soldados brasileiros desembarcaram num Haiti , apenas para realizar a sórdida e habitual repressão policial da população pobre. Espera-se, portanto, que não corram o risco de envolver-se em combates contra uma eventual resistência popular.
Revolução gloriosa
A imagem de um Haiti semi-selvagem e incapaz de se auto-administrar é construção racista do imperialismo yankee. O Haiti foi a primeira nação americana a conquistar a independência e o fim da escravidão, através da gloriosa sublevação de sua população escravizada que, semidesarmada, vergou os mais poderosos exércitos da época – francês, inglês e espanhol.
No preciso momento em que a sanha do colonialismo abate-se novamente sobre o pais sofrido. É difícil prever o pulsar profundo de um povo oprimido. No caso improvável, mas não impossível, de que a realidade não corresponda às expectativas, Lula da Silva e seus asseclas não poderão, como o serviçal presidente polonês, invocar terem sido enganados por Bush e Chirac.
Lula e seu governo vêm alienando a independência nacional, ao submeter o país incondicionalmente ao capital financeiro mundial e suas instituições. Agora, propõem envolver o exército brasileiro em operação de submissão semi-colonial de uma nação americana. E tudo sob o silêncio de partido que, um dia, se agrupou sob a bandeira vermelha dos trabalhadores das cidades e do campo do Brasil e do mundo.
Em defesa do Haiti
A eventual participação do Brasil na imposição armada de ordem semicolonial no Haiti manchará indelevelmente as mãos do governo Lula da Silva, do PT e dos partidos da aliança governamental com o sangue do povo haitiano, que já começa a ser vertido pelas tropas imperialistas franco-americanas.
Trabalhadores, democratas, as mulheres e os homens de bem do Brasil devem cerrar filas na luta pelo respeito pleno e incondicional do direito de autodeterminação e contra qualquer participação nacional na aventura imperialista, não importando qual bandeira serva de mortalha para o crime que já se perpetra contra o povo haitiano.
Sobretudo as direções do movimento negro organizado e a população afro-descendente brasileira devem levantar-se na defesa intransigente desse povo mártir, heróico protagonista no passado da mais radiosa saga libertária americana. Saga pela qual foi e continua sendo punido pelos senhores das riquezas e do poder do passado e do presente.
Mário Maestri é historiador
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