27 de out. de 2008

Okupar é resistir Originário da contra-cultura dos anos 60, o movimento squatter ganhou o mundo com seus ideais de solidariedade e afronta aos valores do sistema capitalista. Adriano Belisário Em toda grande cidade, o abandono de imóveis contrasta com a massa de desalojados. Enquanto sem-tetos buscam abrigo pelas ruas, proprietários mantêm suas posses vazias com a esperança de vendê-las no futuro por um preço vantajoso. Geralmente ignorada pelo poder público, a especulação imobiliária não passa desapercebida pelos squatters. Nascido na contra-cultura européia dos anos 60, este movimento ocupa espaços urbanos ociosos para neles construir verdadeiros centros de resistência cultural. Formado basicamente por anarquistas, punks, hippies e comunistas, o movimento squatter luta contra aquilo que os pesquisadores chamam de gentrificação. Trata-se de um processo de enobrecimento dos espaços urbanos, que ocorre principalmente em pontos centrais das cidades. A gentrificação ocasiona a remoção dos moradores de áreas consideradas degradadas em prol da recuperação econômica do local. Por sua vez, os squatters promovem outro tipo de revitalização. Após limpar o prédio abandonado, eles instalam serviços básicos, através de “puxadinhos” de água, luz e gás. No entanto, a ocupação só é completa quando o local passa a ser sede de atividades culturais, como a instalação de bibliotecas, mostras de teatro e poesia e rádios clandestinas. Eis, então, um autêntico squat. A legalidade de seu funcionamento varia de acordo com a legislação do país. Enquanto em muitas regiões a prática é considerada ilegal, na Holanda, por exemplo, prédios abandonados por longos períodos podem ser ocupados sem problemas judiciais. Os squatters também são conhecidos como okupas. Entre eles, o termo "ocupação" é grafado com K para diferenciar suas intervenções das outras, marcando o caráter políticos de seus atos. A letra remete ainda à cultura punk, que, ao lado do anarquismo, forneceu as diretrizes básicas do movimento squatter. As ocupações são feitas em regime de autogestão, sem chefes ou líderes. Para os squatters, a construção de um espaço alternativo baseado em princípios de solidariedade e respeito mútuo é uma forma de resistir ao pensamento capitalista, centrado nas noções de propriedade privada e na massificação cultural. Para quem acredita que anarquia é sinônimo de bagunça, não faltam exemplos de organização squatter para provar o contrário. Em Londres, ficou famoso o caso do Squat 121 Center, que após 18 anos de existência foi desativado em 1999. Nele, entre outras atividades, os okupas realizavam ações de amparo à população pobre da cidade. Em relato à Revista Dynamite, Kuru, brasileiro ex-membro do squat inglês, afirma que o grupo era formado em grande maioria por revolucionários e pessoas ligadas à causa ecológica. “A gente ia aos lixos atrás dos supermercados e feiras. Pegávamos tudo o que eles não queriam mais. Era muita comida. Às vezes cozinhávamos para quase 100 pessoas”,

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