27 de dez. de 2008
globalização
Com a globalização, o imperialismo acumulou contradições estruturais
1 - Internacionalização da produção x propriedade privada
A globalização aprofundou a internacionalização da produção. Hoje essa internacionalização se choca cada vez mais com a propriedade privada dos meios de produção.
A abertura das fronteiras econômicas levou as multinacionais a desfrutarem de uma liberdade nunca vista para a movimentação do capital. As montadoras de automóveis podem fabricar motores em um país, o câmbio em outro, e montar o carro num terceiro país, onde centraliza a produção e a venda de uma região.
O imperialismo derrubou as barreiras alfandegárias nos países dominados, para ocupar diretamente seus mercados. Impôs os tratados de livre comércio, arrasou empresas menores e aumentou a centralização do capital.
O choque dessa internacionalização com a propriedade privada se demonstrou ainda no auge do crescimento. As empresas "multinacionais" seguiram sendo propriedade privada de burgueses que têm nacionalidade e se apóiam em seus Estados nacionais para garantir seu domínio. E as burguesias com menor produtividade dos países imperialistas (como setores do campo e produtores de aço) são defendidas por seus Estados contra a concorrência de empresas (muitas vezes também multinacionais) instaladas em países semi-coloniais. Essa é uma das contradições atuais que mantém emperradas as negociações do livre-comércio da rodada de Doha.
Quando a crise explode, se torna imperioso tomar medidas internacionais de controle. Mas cada país imperialista vai buscar defender seus próprios interesses. Até agora, a coordenação se limitou a salvar os grandes bancos. A crise vai se aprofundar quando medidas protecionistas forem tomadas pelos Estados para defesa de suas empresas industriais e comerciais. Algo já esboçado por Obama para proteger a indústria automobilística norte-americana.
2 - A disputa entre Estados imperialistas
A passagem da hegemonia do imperialismo inglês para o norte-americano custou ao mundo duas guerras mundiais. Os EUA saíram da Segunda Guerra como senhores absolutos e moldaram os acordos de Bretton Woods, que legitimaram o dólar como moeda e reserva de valor internacional.
Hoje a hegemonia norte-americana está questionada, assim como o dólar. Os EUA continuaram nos últimos 30 anos bancando sua superioridade de forma cada vez mais artificial, deixando de ser o maior credor para se tornar o maior devedor de todo o mundo. Têm déficits comerciais e fiscais brutais, que se sustentam com uma injeção de quase três bilhões de dólares por dia do resto do mundo. Os EUA funcionam como uma gigantesca aspiradora da mais-valia mundial, numa relação cada vez mais parasitária apoiada na sua força militar e financeira.
A explosão da crise atual agrava essas contradições. A manutenção do dólar como moeda internacional, cada vez mais questionada, não é uma simples relação monetária, mas a expressão de uma dominação, da relação entre os Estados imperialistas.
A decadência dos EUA não está sendo acompanhada do surgimento de uma alternativa imperialista. Uma nova guerra interimperialista pelo controle do mundo neste momento não está colocada, pela enorme superioridade dos EUA. A perspectiva que se abre, portanto é de continuidade da crise, sem solução imediata.
Uma nova situação internacional está se abrindo
Estamos entrando em uma nova situação política internacional, que levará a mudanças bruscas e convulsivas em muitos países. As crises econômicas nem sempre geram ascensos revolucionários. Por vezes, pelo temor do desemprego, fazem com que as mobilizações sejam reduzidas.
Acontecem com muita freqüência crises políticas dos governos e dos regimes. Caso essas crises se combinem com grandes lutas dos trabalhadores, podem se abrir situações e crises revolucionárias.
Nesse momento, a recessão já se abriu nos países imperialistas. A primeira grande expressão produzida pela crise é a eleição de Obama nos EUA (veja página 4). Uma medida preventiva da burguesia para controlar o barril de pólvora em que está se transformando a principal potência.
Também há manifestações importantes. A greve radicalizada dos operários da Nissan, na Espanha, e a ocupação de uma fábrica de janelas e portas em Chicago, nos EUA, são exemplos a seguir. A generalização das lutas pode provocar mudanças importantes na situação de seus países. Mas para isso, terão que se enfrentar com as burocracias sindicais dominantes. Basta ver o papel vergonhoso dos dirigentes dos sindicatos automobilísticos, que acompanharam seus gerentes para pedir dinheiro e oferecer perda de direitos no Congresso dos EUA.
Nas últimas crises, em geral os grandes ascensos ocorreram nos países semi-coloniais. Essa realidade pode mudar no próximo período.
A China, um dos grandes símbolos da "globalização", pode sofrer uma grande convulsão. A redução brusca no crescimento (deve baixar de 12% para 5% no último trimestre), acompanhado das tensões determinadas pela existência de uma ditadura, podem mesmo provocar uma explosão social nesse país.
Na América Latina, os governos de frente popular (como Lula, Tabaré Vasquez e Evo Morales) e nacionalistas burgueses (como Chávez), se aproveitaram do crescimento econômico. Agora terão que amargar a gestão de uma crise muito profunda, com o desgaste que isso pode significar.
A última crise econômica levou às insurreições e levantes no Equador (2000), Argentina (2001) e Bolívia (2003) que derrubaram governos. Mas a atual é muito mais profunda e pode ter desdobramentos convulsivos.
Assistiremos não só a crise dos governos, mas dos regimes. A democracia burguesa foi a base principal para a implantação dos planos neoliberais, mas agora vai encarar sua maior crise.
A tendência à polarização política entre revolução e contra-revolução, que já vemos na Bolívia, pode se estender ao resto do continente. Pode-se abrir espaço para revoluções vitoriosas, bem como para golpes militares.
A necessidade de uma terceira alternativa, independente dos trabalhadores, perante a polarização entre os blocos burgueses do reformismo e da direita será cada vez mais dramática.
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