16 de abr. de 2008
FOCOS DE RESISTÊNCIA
Em tempos de dengue é bom saber que existe outros focos que não só de mosquitos.No campo os trabalhadores rurais também se mexem. Os Sem Terra iniciaram as marchas para cobrar mais rapidez na reforma agrária. O movimento avança na proposta de mais famílias assentadas, mais verbas para o campo e propõe, principalmente, a alteração da atual política econômica. Essa que restringe recursos para áreas de interesse social, como é o caso da política de reforma agrária. A jornada de abril (ABRIL VERMELHO)tem como objetivo preparar o MST, para marcar a passagem dos doze anos do massacre de Eldorado dos Carajás (PA). O movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido como Movimento dos Sem Terra ou MST, é fruto de uma questão agrária que é estrutural e histórica no Brasil. Nasceu da articulação das lutas pela terra, que foram retomadas a partir do final da década de 70, especialmente na região Centro-Sul do país e, aos poucos, expandiu-se pelo Brasil inteiro. O MST teve sua gestação no período de 1979 a 1984, e foi criado formalmente no Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que se realizou de 21 a 24 de janeiro de 1984, em Cascavel, no estado do Paraná. Hoje o MST está organizado em 22 estados, e segue com os mesmos objetivos definidos neste Encontro de 84 e ratificados no I Congresso Nacional realizado em Curitiba, em 1985, também no Paraná: lutar pela terra, pela Reforma Agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores.O MST contabiliza um número de aproximadamente 250 mil famílias assentadas e de 70 mil famílias acampadas em todo o Brasil. Quantidades pequenas diante da realidade das mais de 4,5 milhões de famílias sem-terra existentes no país, mas significativas, dado o formato histórico da questão agrária entre nós, e a dignidade humana construída mediante tais números. O MST já registra em sua história áreas conquistadas do latifúndio que se tornaram lugares de vida e de trabalho para muitas famílias, e de produção de alimentos para mais outras tantas.
A trajetória do MST foi sendo desenhada pelos desafios de cada momento histórico. À medida que os sem-terra se enraízam na organização coletiva que os produz como sujeitos, passam a viver experiências de formação humana encarnadas nesta trajetória. Mesmo que cada pessoa não tenha consciência disso, toda vez que toma parte das ações do Movimento, fazendo uma tarefa específica, pequena ou grande, ela está ajudando a construir esta trajetória e a identidade Sem Terra que lhe corresponde; e está se transformando e se reeducando como ser humano.Os Sem Terra se fortalecem como sujeitos e se firmam como identidade, à medida que suas ações conseguem pôr em questão e, ao mesmo tempo, afirmar valores, provocando as pessoas a pensar para além da ação que enxergam. Cada vez que caem cercas a sociedade é obrigada a olhar-se e a discutir o tamanho das desigualdades, o tamanho da opulência e da miséria, o tamanho da fartura e da fome... (Pedro Tierra, poeta, 1995). Em uma ocupação de latifúndio há um valor posto em questão: o da propriedade em si mesma; e há valores afirmados ou reafirmados: o da vida e do direito de lutar por ela.Em todo estes processos temos a afirmação de novos seres humanos, ou de um novo jeito de ser humano. Neste sentido voltamos à reflexão constituinte deste raciocínio todo: é exatamente prestando atenção nas pessoas, e em como a dinâmica do Movimento é capaz de produzir gente, seres humanos que se convertem em sujeitos sociais, que é possível perceber na atuação do MST certos pressentimentos de futuro, por sua vez encarnados em preciosos tesouros do passado, no sentido de que sua identidade se entranha em um movimento sócio-cultural que projeta uma concepção de relações sociais e uma forma de ser humano que não correspondem àqueles produzidos hegemonicamente pela sociedade capitalista atual.É claro que temos alternativas de poder,e não só este poder único do pensamento liberal burguês.
João Filho,professor eventual da rede pública de São Paulo
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