7 de set. de 2008

A pior violência

A pior violência é o fim dos sonhos" Jardim Santo Eduardo, um bairro que pouco se vê na mídia. Quem olha de fora até pode achar um lugar tranqüilo. Só para ter idéia da "tranqüilidade", lá conheci a única filial das Casas Bahia com seguranças armados. Leia a seguir um pequeno depoimento de um jovem sobre a realidade dessa comunidade, sobre a violência e o rap. "É o seguinte, mano: violência para mim é explícita a duas quadras daqui, logo ali no condomínio, onde enquanto pessoas passam fome desse lado outras jogam no lixo daquele lado. Isso sim é violência. Você não vê a polícia enquadrando o pessoal que mora ali, o que se vê são os policiais acenando para eles e dizendo que está tudo sob controle, que eles podem andar em paz porque estão nos vigiando. A pior violência para mim é essa do descaso. Nós somos entregues à própria sorte sem ter em quem se apoiar, a maioria dos moleques aqui nem tem pai. Os que têm era melhor se nem tivesse, tá ligado. Nós "tamo" presos num círculo vicioso em que as alternativas são cadeia e caixão ou o rap, que é o caso de vocês, que bem ou mal dá uma esperança de sonhar com a liberdade, com um mundo menos infeliz. A pior violência que vejo aqui é o fim dos sonhos. Sem sonhos não somos nada e, já que não temos horizonte e não temos para onde ir, qualquer lugar serve e nós "vamo" se acostumando com isso que vocês cismam em ficar relembrando toda hora: a condição miserável em que vivemos. As letras de vocês podem até fazer bem para alguns, mas para outros não. Tipo aquela "Paz na zona sul", que o Dinastia Urbana canta. Tem muito marmanjo aí que se emociona porque ela fala de coisas que aconteceram aqui na nossa frente com pessoas que a gente conheceu, que cresceram junto e hoje os mano estão na lembrança e eternizados na letra de vocês. Espero que vocês não desistam do caminho que escolheram e que possam ser uma terceira via para essas pessoas que perderam a capacidade de sonhar. Muita sorte aí na caminhada de vocês."

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