23 de jul. de 2011

Em meio a impasse, Democratas e Republicanos concordam que os mais pobres paguem o preço da crise

O impasse político que se arrasta nos EUA há algumas semanas fez acender o sinal vermelho da economia mundial ao mesmo tempo em que mostra que a crise desatada em 2007 está muito longe de terminar. No centro do imperialismo, a crise econômica se desdobra em uma grave luta política. Em resumo, o governo Obama precisa aumentar o teto do endividamento público, que lá é definido por lei, para continuar pagando as contas, principalmente os serviços da dívida pública. O impasse está nos condicionantes para tal manobra. A fim de autorizar Obama a elevar o endividamento para além dos já inacreditáveis 14 trilhões de dólares, o Partido Republicano exige um rígido programa de cortes fiscais do Estado, atingindo, sobretudo os gastos sociais. Os democratas, por outro lado, a fim de resguardar parte de seu eleitorado, querem que uma pequena parte desse ajuste, ou 20%, venha de aumento de impostos. Ambos, porém, concordam na meta de se reduzir em 4 trilhões de dólares o déficit público nos próximos 10 anos. No entanto, o prazo para a elevação do teto da dívida se encerra no dia 2 de agosto. O governo Obama e grande parte da mídia internacional anunciam o apocalipse caso não se chegue a um acordo até esse dia. A megapotência teria que declarar moratória em parte de suas dívidas. Investidores da dívida norte-americana ficariam a ver navios e velhinhos não receberiam suas aposentadorias. Tentam, assim, responsabilizar os fundamentalistas de direita do Tea Party pelo impasse, diferenciando-os dos democratas, supostos reféns desse jogo. Mas será mesmo assim? Duas faces de uma mesma política Os republicanos aparecem como os grandes defensores das contas públicas, enquanto o Partido Democrata tenta encarnar uma política supostamente progressiva, preocupada com os mais pobres. Tal imagem, no entanto, longe de representar duas alternativas realmente distintas, serve mais como marketing político, criando uma ilusão de alternância de poder no sistema bipartidário. Exemplos: o governo Clinton foi marcado pelo rigor fiscal, fechando seu mandato em 2000 com um superávit de mais de 5 trilhões de dólares. O início da era Bush e sua política de intervenção e ocupação militar no Afeganistão e Iraque fizeram explodir os gastos públicos e transformaram em poucos anos o superávit em déficit. Situação agravada pelo corte nos impostos dos mais ricos. No final de seu governo, com a popularidade desgastada e diante de um país tomado pela crise econômica, anunciou um megapacote de estímulos ao sistema financeiro de 700 bilhões de dólares. Para fazê-lo aprovar no Congresso, contou com a ajuda do já presidente eleito Barack Obama que, pessoalmente, conclamou os parlamentares a aprovarem o pacote. Ou seja, o déficit público causado pelas guerras e isenções de Bush foi aprofundado com os pacotes de ajuda a Wall Street e às empresas. O déficit passou de 2,7% do PIB em 2007 para 12,7% em 2010. Já o tal da dívida foi de 62% para quase 100% hoje. Isso significa que o valor total da dívida norte-americana é o equivalente ao valor de tudo o que o país produz em um ano. Mais do que rupturas, o que se pode perceber nesses anos é uma linha de continuidade cuja a essência é o privilégio aos grandes bancos e empresas. Talvez o maior exemplo disso seja a “estatização” da então combalida General Motors, salva da falência com recursos do tesouro norte-americano. Mas se por um lado o conjunto de pacotes e estímulos ajudaram a impedir que a recessão evoluísse para uma depressão como a dos anos 1930, por outro a anêmica recuperação já vem dando sinais de esgotamento. O crescimento do primeiro trimestre deste ano foi de 1,9%, enquanto no mesmo período de 2010 foi de 2,8%. O desemprego, que havia recuado, voltou a avançar com a desaceleração. E o horizonte não é nada alentador. Crise política A falta de perspectiva de uma solução para a crise vem se transformando cada vez em uma crise política nos Estados Unidos. Por um lado amplos setores populares que se moveram durante a campanha de Obama à presidência se desiludiram com o seu governo. À permanência das tropas no Afeganistão e a demora na retirada do Iraque se juntam a continuidade da base de Guantánamo, os programas sociais limitados, como o sistema de Saúde alardeado pelo presidente e, principalmente, o alto desemprego e a economia cambaleante. Entre Wall Street, que financiou sua campanha, e os milhares de voluntários que se moveram para elegê-lo, Obama ficou com o primeiro. Ao mesmo tempo tem-se o fortalecimento do Tea Party, movimento surgido em 2009 da “América profunda” e que vocaliza o pensamento mais conservador, xenófobo e racista do país. O movimento vem ganhando força, impulsiona o Partido Republicano enquanto o empurra ainda mais à direita. Se não chega a representar de conjunto uma política econômica alternativa à atual, ajuda a radicalizar a disputa política entre democratas e republicanos e pode desatar graves crises. Foi assim que, no final de 2010, os republicanos tiveram a maioria nas eleições legislativas e conquistaram o controle da Câmara dos Representantes. Em abril deste ano o governo quase fechou em meio a um impasse entre democratas e republicanos na aprovação do Orçamento para a administração federal. E agora, caminha-se para a mais grave crise até agora e o que poderia parecer impensável há algum tempo, os EUA declararem “default”, começa a ser cogitado. O que vem a seguir É evidente que uma moratória dos EUA não interessa aos democratas e nem aos republicanos. Como estamos cansados de ver por aqui, no jogo da disputa política entre o governo e a oposição de direita, há um limite que se esbarra na defesa dos interesses da burguesia. No caso dos EUA, se trata dos interesses do Imperialismo hegemônico no planeta. Os dois lados concordam em cortar gastos, inclusive sociais. Obama colocou na roda até mesmo o Medicare (serviço público de saúde para os idosos) e o Medicaid (serviço de saúde dos mais pobres) e a Previdência Pública, medidas que aumentaram ainda mais seu desgaste com os setores que o apoiavam, principalmente as centrais, como a chapa-branca AFL-CIO. O Partido Republicano, porém, exige que nem um centavo desse ajuste venha do aumento de impostos e ameaça barrar a elevação do teto da dívida. Uma solução, porém, já começa a ser desenhada pelo próprio lado republicano. O senador Mitch McConnell propôs que o legislativo concedesse a Obama uma autorização para que ele, unilateralmente, aumente o teto do endividamento público. Assim, o país continuaria pagando suas contas e os republicanos colocariam na conta de Obama a elevação da dívida, arrastando a crise até as próximas eleições, o significado real desse impasse. De fundo, os dois lados concordam que é necessário conter o monstruoso déficit. Após a gastança desenfreada para salvar empresas e banqueiros, alguém deve pagar a conta. E tanto democratas como republicanos também concordam sobre quem deve recair esse peso: nas costas dos trabalhadores e da maioria da população.

Um comentário:

Unknown disse...

por que o funk nao podei decom letras que faziam apologia de temas como sexo, drogas e violência sò poderia tefalando sobre ostentação, é nao poderser sobre passando a valorizar itens de consumo, principalmente artigos de luxo como carros e muita joisa

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