29 de jul. de 2008

Panfletos, santinhos, bandeiras e muitos sorrisos

Panfletos, santinhos, bandeiras e muitos sorrisos: a campanha eleitoral começou. Nos próximos meses, a população será saturada por velhos políticos profissionais, que prometem o paraíso na Terra, para se manterem no poder, enquanto as coisas ficam como estão. A democracia burguesa alimenta a ilusão de que o voto pode mudar a realidade, e se a vida anda difícil e a corrupção é a regra na política, a culpa é do povo, que "não soube votar direito". O regime burguês é uma ditadura dos ricos escondida sob uma máscara democrática. Os financiamentos milionários de empresários, banqueiros e latifundiários determinam os políticos que serão eleitos. São os mesmos de sempre que, defendem os interesses da burguesia. Só na campanha à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) declararam que irão gastar em torno de R$ 80 milhões. Assim como as eleições para presidente, as eleições municipais mobilizam as esperanças de milhões. Os prefeitos e vereadores são os representantes desse regime mais próximos da população. É onde também aparece de forma mais explícita as práticas clientelistas e coronelistas: compra de votos e até mesmo através de ameaças. As prefeituras gerem parte importante do sistema público de saúde, educação, transporte e assistência social. E como ocorre na esfera federal e estadual, os municípios respondem à lei de Responsabilidade Fiscal, que prioriza o pagamento da dívida em detrimento dos investimentos sociais. Ou seja, é a base da pirâmide que mantêm esse regime. Não é apenas a campanha eleitoral, que se reveste de uma falsa máscara democrática. Ultrapassando a barreira das eleições, o próprio parlamento não apresenta qualquer possibilidade de transformação social. PORTAL DO PSTU *Trabalhadores dos Correios vencem e derrotam governo Lula e ECT *Mineração: Vale ataca direito histórico dos trabalhadores * Petrobras aumenta truculência, trabalhadores aumentam mobilização *Incêndio criminoso destrói aldeia indígena na Terra de Araribóia LEIA NO PORTAL DA LIGA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES *Perú: Paro Nacional contra el gobierno de Alan García *Argentina: Ninguna concesión a los sojeros *Dirigente do “Batay Ouvriye” (Batalha Operária) visita Brasil e denuncia ocupação no Haiti www.litci.org Por que participar das eleições?. Estamos apresentando candidaturas alternativas da classe trabalhadora diante dos candidatos da burguesia. Mas, se a campanha eleitoral é, em geral, uma grande farsa a fim de renovar e perpetuar as ilusões do povo e dos trabalhadores nesse regime, por que participar das eleições? Historicamente, os revolucionários aproveitam o espaço conquistado no regime para atuar contra ele. As eleições inclusive. A campanha eleitoral é utilizada pelo partido revolucionário para fazer propaganda de sua política, denunciar o sistema e a falsa democracia e, sobretudo, apoiar as lutas concretas dos trabalhadores. Assim, as promessas vazias dos políticos tradicionais dão lugar a um discurso de classe, de denúncia contra o capitalismo e defesa do socialismo. Segue hoje mais válida que nunca uma resolução da III Internacional sobre as eleições. Segundo ela, o parlamento burguês é um ponto de apoio secundário para o partido. "A campanha eleitoral em sim mesma deve ser conduzida, não no sentido da obtenção do máximo de mandatos parlamentares, mas no sentido da mobilização das massas", diz a resolução. Isso porque o que é importante, estratégico, para o partido revolucionário, é a mobilização das massas. As eleições são uma tática submetida a isso. Na medida em que os trabalhadores ainda mantêm suas ilusões nesse regime, o PSTU utiliza o curto espaço nas eleições para denunciá-lo e impulsionar as lutas. Frente Eleitoral de Esquerda Nessas eleições, defendemos uma frente de esquerda que unificasse sem nenhuma representação dos partidos burgueses. O objetivo é estimular uma alternativa dos trabalhadores contra o governo e também contra a oposição burguesa. Tal frente se formou na maioria das capitais do país incluindo Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, João Pessoa, Aracaju, Teresina, Salvador, Manaus e Goiânia. A frente não se concretizou em algumas cidades aonde onde os partidos da burguesia, como em Porto Alegre (com o PV, da base do governo Lula) e Macapá (PSB). A frente também não saiu aonde o alguns quis impor um critério arrogante e autoritário. Em Maceió, por exemplo. Candidaturas das lutas dos trabalhadores... Outro aspecto importante da participação dos socialistas nas eleições é a apresentação de candidatos que representam as lutas diretas dos trabalhadores. Nossos candidatos são lideranças grevistas que atuam direta e cotidianamente nas lutas de metalúrgicos, petroleiros, bancários, professores, servidores. Durante a campanha, o PSTU cederá seu tempo de TV para o apoio às greves que ocorrerem. Toda a campanha eleitoral será financiada com recursos dos próprios trabalhadores. Se eleito, o candidato colocará seu mandato à serviço da mobilização , não terá qualquer privilégio material e continuará vivendo com o mesmo salário que ganhava antes de eleito. Os discursos de nossos candidatos não apresentam promessas vazias Ao contrário, nossa campanha afirma que nada vai mudar sem uma ampla mobilização dos trabalhadores. Coloca a necessidade de parar de pagar a dívida aos estados e governo federal, para investir em saúde, educação e demais áreas sociais. Denuncia, por isso, a Lei de Responsabilidade Fiscal, que classifica como crime não pagar a dívida. ...e socialistas Coerente com essa política, um dos principais diferenciais das candidaturas desta opção clara pelo socialismo. Nenhuma mudança de fato vai ocorrer nos limites do capitalismo. A burguesia e os partidos reformistas acusam estes de "utópico". Querem fazer parecer estranho falar de socialismo nas eleições municipais, cujos problemas discutidos são buracos de ruas, a precariedade dos postos de saúde e das escolas. As propostas irreais, "utópicas" ou mesmo mentirosas, porém, partem desses partidos. Como melhorar a saúde, educação e demais áreas destinando a maior parte dos recursos ao pagamento da dívida aos banqueiros e especuladores? Como governar para a maioria do povo num sistema cujo sentido é perpetuar o lucro de poucos ao custo da miséria e exploração da maioria? Por isso, um programa coerente e realista de verdade não pode se restringir aos marcos do capitalismo. Só através do socialismo é possível resolver os problemas que afligem o cotidiano da grande massa dos trabalhadores. CONHEÇA AS CANDIDATURAS SOCIALISTAS E DE LUTA

24 de jul. de 2008

A inflação

A inflação muitas vezes é ilustrada pela imprensa como um dragão que “queimaria” o dinheiro com suas labaredas. O objetivo é reforçar a idéia de que a inflação representaria uma perda para toda a sociedade. O dinheiro das pessoas simplesmente evaporaria pelo aumento excessivo dos preços. Mas o aumento dos preços não é um fenômeno natural. É uma forma de os capitalistas ficarem com partes cada vez maiores dos salários. Não é à toa que empresas, bancos, investidores e latifundiários vêm tendo lucros recordes enquanto a renda dos trabalhadores diminui. Como uma hiperinflação pode bagunçar a economia de qualquer país, o imperialismo e seus organismos agem para controlá-la. Mas, em vez de congelarem os preços dos produtos, acham melhor congelar os salários. O Banco da Espanha, por exemplo, recomendou publicamente o congelamento salarial, apesar de o poder aquisitivo no país estar baixando desde 1995. Já o FMI sugeriu o “controle no aumento dos salários” na América Latina. No Brasil, o governo Lula aumentou os juros com a intenção de desacelerar a economia. A política é arrochar ainda mais os salários, conter o consumo e controlar a inflação É claro, mantendo os lucros da burguesia.

20 de jul. de 2008

Barack Obama: um "novo rosto" para "o velho" imperialismo A vitória do senador Barack Obama nas internas do Partido Democrata é um fato inédito na história do EUA: pela primeira vez, terá um candidato negro nas eleições presidenciais, representando um dos dois grandes partidos. Mais ainda, as pesquisas indicam que tem muitas possibilidades de derrotar á seu oponente republicano, John McCain. O fato de que um jovem político negro, filho de um imigrante africano muçulmano, possa se transformar no primeiro presidente negro do país era algo absolutamente impensado anos atrás e só poderia conceber-se em alguma série de TV, como a 24 horas. É lógico, então, que gere um grande impacto no EUA e em todo mundo. Além da enorme confusão que gera - como veremos nesta edição do Correio Internacional - entre algumas correntes de esquerda. Trata-se de uma mudança real - parcial, mas importante - do sistema de poder político da principal potência imperialista mundial? Ou, pelo contrário, é só uma necessária adaptação formal deste sistema (um "novo rosto") para poder enfrentar - em melhores condições - as graves dificuldades do imperialismo norte-americano no mundo e em seu próprio país? A LIT-QI afirma claramente que se trata da segunda alternativa. Para demonstrá-lo devemos analisar, por um lado, as características centrais desse sistema que criou uma figura como a de Barack Obama e, por outro, as condições que fizeram necessário seu possível acesso à presidência do país. O sistema bipartidário O sistema político-eleitoral norte-americano baseia-se na existência de dois grandes partidos burgueses - republicano e democrata - que, segundo as circunstâncias, se alternam entre a presidência e a oposição parlamentar. Ambos os partidos apresentam diferenças políticas e se assentam sobre bases eleitorais diferentes. Os republicanos expressam tradicionalmente posições mais reacionárias e se apóiam na classe média das cidades medianas e pequenas e nas classes médias acomodadas das grandes cidades. Os democratas, por sua vez, expressavam posições mais "liberais" (no sentido norte-americano da palavra) e seu apoio eleitoral surge dos trabalhadores e a classe média "liberal" das grandes cidades, além de integrar tradicionalmente às minorias - negros e latinos - e a outros setores discriminados. Por seu peso histórico nas direções sindicais, os democratas sempre desempenharam o papel de impedir uma alternativa independente da classe operária no terreno eleitoral. No entanto é necessário agregar que, nos últimos anos, essas diferenças políticas tenderam a se diluir cada vez mais e existe uma forte direita democrata sem grandes diferenças com os republicanos. Não restam dúvidas é que republicanos e democratas são partidos da burguesia imperialista, até a medula. Algo que se demonstra, em primeiro lugar, pelas fabulosas quantidades de dinheiro que as grandes empresas contribuem para financiar ambos partidos e seus candidatos. Neste sistema, nenhum político tem possibilidade real de aceder a cargos importantes se não conta com um forte respaldo financeiro das empresas a troco de compromissos com esses patrocinadores. Analisamos estes dados em outro artigo desta edição. Eles permitem deduzir quais setores desta burguesia está mais unido a cada partido: os republicanos são apoiados majoritariamente pelas petrolíferas, químicas, as automotoras, construção e o agronegócio enquanto os democratas são fortes no setor de finanças/seguro/bens raízes, educação e saúde. Em segundo lugar, demonstra-se na política que estes partidos aplicam quando governam. Muitos têm a idéia totalmente que os republicanos são mais beligerantes e os democratas mais pacifistas. A realidade o desmente: muitas intervenções militares e guerras do imperialismo norte-americano foram iniciadas por presidentes democratas. Por exemplo, foi John Kennedy quem começou a intervenção no Vietnã, no início da década de 1960, e quem impulsionou a invasão de Baía dos Porcos contra Cuba; Harry Truman ordenou o lançamento da bomba atômica em Hiroshina e Nagasaki, em 1946; enquanto a atual Guerra do Iraque, conquanto tenha sido política de George W. Bush, contou com o respaldo parlamentar democrata. Na hora de defender os interesses imperialistas no mundo, ambos partidos terminam unificando sua política. Quem é Barack Obama? Ao ler sua biografia, uma primeira conclusão é que quase não sofreu, ou sofreu em muito menor grau, a discriminação, a violência e a falta de oportunidades que vivem cotidianamente a maioria dos jovens negros norte-americanos. Filho de um queniano emigrado, que depois voltaria a seu país, e uma norte-americana, estudou Direito na Universidade de Columbia em Nova Iorque e na exclusivíssima Escola de Direito de Harvard, onde se graduou com a menção magna cum laude. Trabalhou numa firma de advogados e depois se trasladou a Chicago onde foi nomeado professor na Universidade. Nessa cidade, relaciona-se com o partido democrata e começa uma meteórica carreira política: em 1996 é eleito para o senado estadual de Illinois e, em 2004, senador nacional, em ambos casos com o apoio de Bill Clinton. Em 2007, decide lançar sua pré-candidatura presidencial nas internas democratas, com o apoio do influente senador Edward Kennedy. O final já o conhecemos. Sua imagem de rapaz "negro de sucesso" resulta, evidentemente, bem mais simpática que a "sabe-tudo" Hillary Clinton ou que o ex-militar John McCain. Mas está bem longe de ser um outsider, um elemento marginal que foi ganhando peso numa dura luta contra o aparelho do partido democrata. Pelo contrário, é um produto genuíno desse aparelho e cuja figura foi sendo construída para poder ser útil em momentos difíceis como este. Pensar que uma possível presidência sua representará uma mudança importante no conteúdo da política norte-americana significa achar que experientes políticos imperialistas, como Edward Kennedy, e empresas como Goldman Sachs, poriam seu peso político - ou seus dólares de apoio - em alguém que seria, ainda que parcialmente, seu inimigo. As posições políticas de Obama Agora vamos dar uma olhada nas posições, levando em conta que, igualmente a outros países, os políticos norte-americanos disfarçam suas verdadeiras posições durante as campanhas eleitorais. No caso de novas figuras democratas, como Obama, costuma se cumprir uma lei: localizam-se mais à esquerda nas internas do partido, direitizam-se na campanha nacional e completam a fundo esse giro ao aceder ao governo. a) As guerras do Iraque e Afeganistão Quando era senador estadual, se opôs à invasão ao Iraque, ponto que foi muito explorado em suas críticas a Hillary Clinton que a apoiou. Em sua página, apresentou um "Obama's Irak plan" que propõe a retirada das tropas norte-americanas em 16 meses, ao mesmo tempo que se reforçaria sua presença no Afeganistão para ganhar esta guerra. No entanto, sua assessora de política exterior esclareceu que esse plano considerava "o melhor cenário possível" e que "será revisado" quando chegue à presidência. b) Israel e Oriente Médio Neste tema, Obama sim falou com toda clareza ante a necessidade de ganhar o apoio do "lobby pró-Israel" norte-americano, de grande peso político e financeiro, que o enxergava com desconfiança. Numa visita ao AIPAC (Comitê Israelo-Americano de relações públicas), expressou que existem "laços indestrutíveis entre Israel e EUA". Agregou que "todos os que ameaçam Israel nos ameaçam" e prometeu lhe oferecer "todos os meios disponíveis para se defender de todas as ameaças vindas de Gaza ou de Teerã". Afirmou que "a segurança de Israel é sacrossanta. Não é negociável". Terminou expressando que "Jerusalém continuará como capital de Israel, e deve permanecer sem divisões". Depois do discurso, o embaixador israelense em Washington declarou que "o discurso que Barack Obama pronunciou perante os delegados da AIPAC foi muito importante e animador". c) A crise econômica Num discurso pronunciado em fevereiro passado, expressou que a atual recessão que vive o país e as conseqüências que trará para o povo do EUA não se deviam "a forças fora de nosso controle nem ao inevitável ciclo dos negócios" senão às políticas impulsionadas pelo governo de Bush. Saber que medidas vai aplicar já é bem mais difícil porque o discurso só desenvolve as críticas a Bush. Na seção "Economia" de seu portal, apresenta a seguinte definição: "Acho que o livre mercado foi o motor do grande progresso de América. Criou a prosperidade que é a inveja do mundo e levou a um nível de vida inédito na história. (.) Estamos juntos nisto. Desde os presidentes das companhias até os acionistas, desde os financistas até os trabalhadores das fábricas, todos temos interesse no sucesso do outro porque quanto mais prosperem os americanos, mais prosperará América". Nada muito concreto, mas, que pode se esperar de quem considera que a base de tudo é o "livre mercado" e que os trabalhadores das fábricas "estão juntos nisto" com os empresários, financistas e acionistas? d) A questão dos imigrantes Obama participou em Chicago das mobilizações massivas dos imigrantes do 1º de Maio de 2006. Em 2008 escreveu: "Dois anos depois, nosso problema de imigração segue sem resolver-se, e aqueles que queiram mudança terão que votar por ela em novembro. Por isso hoje, eu convido àqueles que marcham pela mudança, a que trabalhem registrando votos nos meses seguintes. Seu voto é sua decisão". Em outras palavras, nada de seguir a luta, a solução é que "me elejam" como presidente. É difícil saber como poderão seguir esse conselho os 12 milhões de imigrante ilegais sem nenhum direito político. Em uma mesma carta, suas propostas a este respeito são totalmente difusas: "Quero outra vez expressar meu compromisso à reforma de imigração integral e que farei tudo o que possa para trazer ordem e compaixão a um sistema que hoje está quebrado". No entanto, é muito provável que, caso ganhe, aplique a mesma política que propôs seu mentor, o senador Edward Kennedy, no projeto de lei que leva seu nome (e que estava sendo acordada com o Governo Bush). Outra lei que busca dividir os imigrantes ilegais. Por um lado, aqueles que consigam demonstrar que viveram no EUA por mais de cinco anos poderão aspirar a obter a residência permanente, depois de um larguísimo processo de permissões temporárias com condições muito difíceis de cumprir. "Ao mesmo tempo, isto significa que os outros 5 milhões de sem-papéis serão, de fato, expulsos do país, ainda que possam solicitar um visto legal desde seus países, para poder retornar aos EUA. Como a lei propõe uma quota anual de 325.000 vistos provisórios de trabalho, a maioria, de fato, jamais poderá voltar legalmente" . e) Sobre Cuba Igualmente ao caso de Israel, também Obama buscou apoios à direita. Neste caso, na Fundação Nacional Cubano-Americana, em Miami, um dos setores mais reacionários da burguesia cubana exilada no EUA, depois da revolução de 1959. Em seu discurso, reiterou a velha fórmula de aliança com essa burguesia para que a colonização norte-americana volte à ilha e a manutenção do embargo comercial: "Encontramos-nos aqui em nosso compromisso inquebrantável com a liberdade. E é correto que o reafirmemos aqui em Miami (...) juntos, vamos defender a causa da liberdade em Cuba. (...) Não existem melhores embaixadores da liberdade que vocês cubano-americanos. (.) Vou manter o embargo. Ele nos confere o instrumento necessário para confrontar o regime. (...) É assim que se podem promover transformações reais em Cuba: através da diplomacia forte, inteligente e baseada em princípios". f) A questão racial É um tema muito importante já que o "voto negro" foi a base mais sólida de sua vitória nas internas democratas e o será também caso ganhe as eleições presidenciais. Seguramente esta base eleitoral tem muitas esperanças que um presidente negro os ajude a superar a histórica situação de opressão e discriminação que sofrem. No entanto, ao longo de sua carreira política, Obama sempre tentou evitar a "questão racial"; Quando teve que tocar no tema, relativizou seu peso e reivindicou que a "sociedade americana" tinha avançado e o estava superando. Por exemplo, num discurso na Convenção Nacional Democrata de 2004, afirmou: "Não há uma América liberal e uma América conservadora senão os Estados Unidos da América. Não há uma América negra e uma América branca, uma América latina e uma asiática senão os Estados Unidos da América" (9). Mais recentemente, para tomar distância do pastor de sua igreja que tinha dito que o racismo era um componente estrutural e histórico da sociedade norte-americana, declarou: "O profundo erro do reverendo Wright não foi que falasse do racismo em nossa sociedade, senão que falasse como se nossa sociedade fosse estática, como se não se tivesse produzido nenhum avanço, como se este país (...) ainda estivesse irrevogavelmente vinculado a um passado trágico" . Pensarão o mesmo os milhões de negros oprimidos que votaram por ele ou os imigrantes latinos ilegais? Por que Obama? Obama é parte do Partido Democrata, portanto do sistema político bipartidário. Vamos analisar porque a burguesia dos EUA, ou pelo menos setores muito importantes dela, optam por Obama. A explicação de fundo são as crises em várias crises enfrentadas pelo imperialismo norte-americano. Em primeiro lugar, o fracasso da política de "guerra contra o terror" de Bush se expressa no curso desfavorável das guerras no Iraque e Afeganistão, e no enfraquecimento de Israel após sua derrota no Líbano e sua impossibilidade de derrotar os palestinos na Faixa de Gaza. Na região do Oriente Médio, os EUA estão num pântano do qual não podem sair sem admitir uma derrota. Algo que causará grandes custos para sua tarefa de "polícia mundial". Por outro lado, não podem aumentar sua presença militar sem agravar ainda mais a sua situação. Soma-se ainda uma combinação extremadamente perigosa para a burguesia: a recessão que já afeta os EUA e as perspectivas de uma profunda crise econômica. Quer dizer, essa burguesia deverá jogar parte do custo da crise sobre as costas dos trabalhadores, através de desemprego e rebaixamento salarial. Algo que já ocorre na gigante General Motors, que ameaça demitir todos trabalhadores que não aceitam rebaixar seus salários. A classe operária norte-americana é um gigante de 120 milhões. Porém, poucas vezes em sua história ela saiu para lutar de conjunto. Mas quando lutaram estremeceram os alicerces do imperialismo. A luta dos trabalhadores imigrantes, o setor mais explorado dos trabalhadores do país, pode ser uma antecipação dessas lutas. Ao mesmo tempo, o fracasso da "era americana" de George W. Bush deixou o Partido Republicano extremamente desgastado e desprestigiado, sem "peças de reposição". Além de desgastar o regime político do país. É muito difícil que os republicanos possam enfrentar uma situação tão complexa e difícil que, em muitos aspectos, eles contribuíram para criar com suas políticas. ]A maioria da burguesia norte-americana concluiu pela necessidade de apostar na "alternativa democrata". Inicialmente, a aposta preferida foi a "mulher forte", Hillary Clinton. Contudo, diante do agravamento da situação, perceberam a necessidade de uma mudança mais profunda, um novo rosto para o imperialismo. Dessa forma, aumentaram as chances de Obama como a figura mais capaz de defender seus interesses. Um inimigo ainda mais perigoso Setores importantes da burguesia imperialista defendem a utilização de alguém que, por certas características importantes (jovem, negro, filho de muçulmano) pode ser "vendido" como parte de setores oprimidos. E, dessa forma, tentar adormecer qualquer tentativa de reação. Nas últimas décadas, o imperialismo se notabilizou em apresentar "caras novas" nas eleições presidenciais. Por exemplo, o "jovem modelo" John Kennedy, logo após o fim do macartismo, ou Bill Clinton, antigo opositor a guerra do Vietnam. Alguns jornalistas traçam uma comparação entre Obama e o democrata Jimmy Carter, eleito presidente em 1977, após a derrota no Vietnam e dos escândalos político que derrubaram o ex-presidente Richard Nixon. Mesmo que existam profundas diferenças entre ambos, existe um claro ponto em comum: a necessidade de enfrentar uma profunda crise do imperialismo e de seu sistema político. Por isso, é necessário alguém que pareça ser diferente. Durante sua campanha eleitoral, Carter, por exemplo, diziam em seus discursos: "Não sou advogado, não sou de Washington". Tais "diferenças", porém, se limitam a questões formais: todos defenderam até a morte os interesses do imperialismo norte-americano. Por isso, caso vença as eleições, Obama será o principal inimigo dos povos do mundo e dos trabalhadores dos EUA. Nessa questão, nada mudará com relação a Bush. Mas Obama será um inimigo muito mais perigoso porque tentará se disfarçar através de sua imagem nova e diferente. Se Obama vencer a corrida presidencial nos EUA, os trabalhadores os povos do mundo devem combatê-lo com todas as suas forças. Glossário Macartismo - O termo que descreve um período de intensa patrulha anticomunista nos EUA que durou até meados da década de 1950. O termo foi cunhado para criticar as ações do senador direitista norte-americano Joseph McCarthy, que desencadeou a "caça aos comunistas" no país.

19 de jul. de 2008

Governo aciona operação abafa para conter escândalo

O governo entendeu o recado de Dantas. Se o dono do Opportunity resolver abrir a boca, muita gente sai queimada. De todos os partidos. O momento, portanto, é de colocar panos quentes na crise e deixar a poeira baixar. E o primeiro passo já foi dado. O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, responsável pelo inquérito contra o banqueiro Daniel Dantas, foi afastado do caso no último dia 14. Também foram afastados os delegados Carlos Eduardo Pelegrini e Karina Souza, que também atuavam no inquérito. O erro dos delegados: investigar e pedir a prisão do banqueiro. O anúncio do afastamento dos delegados ocorreu após uma reunião com a direção da Polícia Federal em São Paulo. Oficialmente, o governo e a PF afirmam que o delegado Protógenes se afastou para se dedicar a um curso em Brasília. Claro que ninguém acreditou. O ministro da Justiça, Tarso Genro, chegou a atentar contra a inteligência pública ao afirmar que não passava de “coincidência” o tal curso e a investigação contra Dantas. Após o habeas corpus concedido ao banqueiro pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o afastamento dos delegados coordenado pela Polícia Federal e o governo desmascaram a tática para proteger Dantas. Jogando água Na noite do dia 15, Lula convocou uma reunião que contou com a presença de Tarso Genro, o funcionário de Dantas no STF, Gilmar Mendes e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Além de colocar “panos quentes” na suposta crise institucional entre o Judiciário e o Executivo após os desdobramentos da Operação Satiagraha, a reunião tratou sobre uma nova lei para coibir o chamado “abuso de autoridade”. Após a prisão de Dantas, Naji Nahas e Pitta, a ação escandalosa do STF na soltura do banqueiro e a revelação do envolvimento de políticos como o ex-deputado Greenhalgh, o problema para o governo e a Justiça são os “abusos” cometidos na prisão de criminosos de colarinho branco. Para o governo, na mesma semana em que a PM assassina uma criança nas ruas do Rio, e atira em uma vítima de seqüestro por engano, “abuso” de autoridade são algemas em banqueiros presos. Rabo preso A ação do governo e da Justiça tem uma explicação, porém, que não se restringe à questão ideológica de proteger os ricos. Tão logo Dantas foi preso, seu advogado Nélio Machado ameaçou divulgar “papéis” contra o PT. A ameaça não foi vazia e muitos têm motivos para se desesperar, já que o banqueiro foi o principal patrocinador do “valerioduto”. Dantas, aliás, é um verdadeiro arquivo ambulante das mais escabrosas falcatruas dos últimos anos, das privatizações de FHC ao mensalão. Muita gente tem razão para não querer que ele fique preso.

17 de jul. de 2008

democracia participativa

Fonte: Jornal Estado de Minas "Numa democracia participativa, os vereadores deveriam representar a vontade dos eleitores. Quantas vezes o seu vereador o convocou a opinar?" Frei Betto Em outubro, iremos às eleições municipais. Através do nosso voto e dos nossos impostos, vamos dar emprego e poder a quem, em nosso nome, deve administrar o município. Muitos eleitores votam sem conhecer os candidatos a vereador e prefeito, pressionados pela mídia, pela propaganda eleitoral, por familiares e amigos, e até chantageados por cabos eleitorais. A democracia brasileira, porém, tem amadurecido, apesar de políticos que acertam alianças sem nenhuma proposta programática, centrados apenas numa obsessão: perdurar no poder. Nem sempre lembramos o nome do candidato a vereador em quem votamos nas últimas eleições. Agora, fortalece-se em todo o Brasil o movimento por negar o voto a quem sofre processo na Justiça. Pelo menos o eleitor tem o direito de saber se o seu candidato tem currículo, folha corrida, prontuário ou sentença condenatória. Numa democracia participativa, os vereadores deveriam representar a vontade dos eleitores. Quantas vezes o seu vereador o convocou a opinar? Em geral, muitos vereadores acabam representando interesses corporativos, como o das empresas de transporte público ou da especulação imobiliária. E não são raros os que, cooptados pelo executivo municipal, contrariam, no exercício do mandato, tudo aquilo que prometeram na campanha eleitoral. Agora, há algo de novo, não no reino da Dinamarca, mas na democracia brasileira: o controle do poder público municipal pela sociedade civil. Às vésperas das eleições de novos prefeitos, a iniciativa merece ser reproduzida em todo o Brasil. Trata-se do Movimento Nossa São Paulo. Destituído de caráter partidário, ele congrega cerca de 450 movimentos sociais e instituições interessados em melhorar a qualidade de vida da maior metrópole brasileira e reduzir o abismo entre o governo municipal e a população, fortalecendo a democracia participativa. O Movimento Nossa São Paulo nasceu há cerca de dois anos. Criou grupos de trabalho para estudar como a cidade pode se tornar melhor habitável e a administração mais eficiente. Em fevereiro deste ano, conseguiu introduzir uma emenda à Lei Orgânica do Município, que obriga o próximo prefeito a apresentar, em 90 dias após a posse, um programa detalhado de metas, baseado em indicadores para cada área da administração municipal e cada uma das 31 subprefeituras e os 96 distritos de São Paulo. Ao estabelecer metas, o poder executivo contribui para maior controle dos gastos públicos, ou seja, o modo de administrar e aplicar o dinheiro do povo confiado a ele através dos impostos. Em maio, o Movimento promoveu o 1º Fórum Nossa São Paulo – Propostas para uma Cidade Justa e Sustentável, do qual participei ao lado de 750 representantes da sociedade civil. Foram analisados os principais desafios sociais, econômicos, políticos, ambientais e urbanos da capital bandeirante, apontados pela sociedade civil e pelos grupos de trabalho do Movimento. Agora, no dia 21, serão entregues aos candidatos à prefeitura da capital paulista as 1,5 mil propostas de movimentos sociais, universidades, empresas e cidadãos interessados em construir uma cidade justa e sustentável. Na ocasião, cada candidato poderá fazer uso da palavra durante dez minutos. Espera-se que incorporem as propostas a seus programas eleitorais e de governo. Iniciativas como esta contribuem para melhorar o nível de nossos representantes politicos. Ética não é só rechaçar a corrupção e não se aproveitar do cargo para vantagens pessoais, familiares e corporativas. É também coerência de princípios, serviço ao bem comum, respeito à vontade e às aspirações dos cidadãos. Queira Deus – e nós eleitores – que essa moda pegue. Assim estaremos elevando o nível da democracia brasileira, tornando-a verdadeiramente participativa. Frei Betto é escritor, autor de A mosca azul – reflexão sobre o poder

favelas

Embora não haja mais espaço para construir, população desses locais aumentou; "predinhos" são o retrato do fenômeno Crescimento populacional nas favelas foi 660% maior que o de SP entre 2000 e 2007, mas área total que elas ocupam na cidade caiu TALITA BEDINELLI Quando a dona-de-casa Alaíde Souza, 62, se mudou para a favela de Paraisópolis (zona sul de SP), no final dos anos 60, via de sua janela um imenso matagal. Nesses 40 anos, ela acompanhou a construção de inúmeros barracos de madeira, que se transformaram em casas de alvenaria e, pouco a pouco, ganharam novos andares. Hoje, Alaíde vê uma favela vertical. Paraisópolis, que é a maior favela em área da cidade (com 0,8 km2, quase metade do distrito da Sé), passa por um fenômeno que os urbanistas chamam de adensamento urbano: já não há mais espaço para construir, mas a população continua a aumentar. O fenômeno não é exclusivo de lá: as favelas da cidade passaram por um crescimento populacional 660% maior do que a média de São Paulo entre 2000 e 2007. No período, o número de habitantes na cidade aumentou 0,55% ao ano, segundo a Fundação Seade; o das pessoas que vivem em favelas, 4,18%, segundo o CEM (Centro de Estudos da Metrópole) e o site Habi-SP (um banco de dados inédito da Secretaria de Habitação sobre as favelas da cidade, lançado neste ano). O dado é contestado pela secretaria porque o CEM se baseia no censo do IBGE, com metodologia diferente da do Habi-SP. Contudo, urbanistas, como Suzana Pasternak, professora de urbanização da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, concordam com a comparação. Apesar de a secretaria não ter dados exatos, a superintendente de Habitação Popular, Elisabete França, admite que o aumento foi maior nas favelas. "A população da favela cresce mais porque o número de filhos que eles têm é maior." As favelas têm 65 mil habitantes por km2 em SP -no distrito da Bela Vista, com a maior densidade da capital, há 23 mil pessoas por km2. Embora com mais gente, a área que as favelas ocupam caiu: eram 28 km2 em 2003, contra 23 km2 em 2007, segundo a secretaria. Isso levou a um aumento "preocupante" da densidade demográfica delas, na opinião de Pasternak. "Quando as casas são muito próximas, a circulação de ar não é muito eficaz. Um adensamento forte é um convite para doenças contagiosas", diz. Novas favelas Outro fenômeno é que, nos últimos 21 anos, há mais favelas desaparecendo do que novas ocupações surgindo. De 1987 a 2008, 548 foram removidos, urbanizadas ou se uniram -viraram uma só-, aponta a secretaria. Surgiram 362 favelas de 1987 a 2007, revela levantamento feito em junho pela Folha com base no Habi-SP. Há, nessas ocupações, 75.699 casas e cerca de 304 mil habitantes. Desde 2001, não surgem mais de dez favelas por ano. A média histórica anual desde 1934 é de 20. A queda, segundo a secretaria, se deve a uma maior fiscalização, especialmente nas áreas de mananciais, na zona sul, onde hoje ficam 50% das favelas. Nos últimos 20 anos, as favelas passaram a ir para a zona leste. Para urbanistas, outro motivo para haver menos favelas é a escassez de terrenos vagos. "A população mais pobre consegue espaço só nos lugares que não interferem nos ganhos imobiliários. E encontra limites físicos como a serra da Cantareira, ao norte, e os mananciais, ao sul. A escassez de terras para ocupações é um fenômeno mundial", diz Mariana Fix, pesquisadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da USP. A falta de espaço e o excesso de gente levou ao processo de verticalização visto pela dona-de-casa Alaíde, em Paraisópolis, e em outras favelas da cidade, explica Pasternak. "As pessoas não saem da favela porque está difícil de sair. Desde 1980, também se começou a colocar infra-estrutura, como água e luz, melhorando as condições", diz. "Hoje, é possível ver favelas com predinhos grudadinhos uns nos outros." Os "predinhos" são, de fato, casas construídas umas sobre as outras, em cima de lajes, que servem para abrigar filhos do proprietário do imóvel, ou, até mesmo, para alugar

14 de jul. de 2008

movimento estudantil

De Norte a Sul, o movimento estudantil vem protagonizando fortes mobilizações. As coisas começaram a esquentar com a ocupação na USP e a greve das estaduais paulistas. De lá para cá, a temperatura só aumentou, como mostrou a UnB. Esse novo movimento estudantil surge a partir das lutas contra o modelo de universidade imposto pelo governo Lula, através de decretos como o do ReUni. Entretanto, as fortes mobilizações têm colocado na ordem do dia um debate importante. Diante da falência da UNE, como organizar nacionalmente o novo movimento estudantil? Algumas entidades e coletivos do movimento vêm afirmando que é necessário construir uma nova entidade dos estudantes. No entanto, os mais desconfiados ficam sempre com uma pulga atrás da orelha: como assim uma nova entidade? Esse é um debate que está aí e merece ser feito. Aqui vamos dar algumas opiniões de como deve surgir uma nova entidade nacional dos estudantes. Em primeiro lugar pensamos que uma nova entidade deve ser construída a partir de um Congresso Nacional de base, com milhares de delegados eleitos em assembléias de cursos por todo o país. Isso é fundamental. Desde o seu surgimento, a marca desta nova entidade deve ser a democracia de base. Pensamos que esse congresso deve ser organizado por uma comissão aberta, para que todos possam construí-lo. A democracia deve estar presente não apenas no congresso, mas também no dia-a-dia da entidade. Sua marca deve ser seu caráter democrático, de base e antiburocrático. Em nossa opinião para que isso seja possível, será preciso construir uma nova entidade sem direção fixa e eleita, mas a partir das entidades de base. Ou seja, a direção nacional da nova entidade não pode ser um grupo de iluminados, mas dezenas de representantes das entidades de base de todo o país, que se reúnem regularmente para organizar as lutas nacionalmente. Uma espécie de Conselho de Centros Acadêmicos nacional, que organize as diferentes reivindicações do movimento estudantil. Em segundo lugar, consideramos fundamental que esta entidade seja marcada pela luta direta. Não podemos construir uma ferramenta que privilegie a luta institucional em detrimento da luta direta. A nova entidade deve ser um instrumento para as lutas, deve ser a entidade das ruas e não dos gabinetes. As negociatas e os acordos de cúpula devem ser varridos do movimento e substituídos pela mobilização democrática e permanente dos estudantes. Queremos destacar a necessidade de a nova entidade resgatar o classismo no movimento estudantil. Vivemos numa sociedade de classes em que a neutralidade favorece os ricos e poderosos. O movimento estudantil não pode ser neutro. Ele deve estar lado a lado com a classe trabalhadora nas lutas e tomar como suas as bandeiras dos trabalhadores. Só assim o movimento estudantil poderá estar de fato, e não apenas em palavras, comprometido com a transformação radical da sociedade. Sabemos que esta discussão ainda está iniciando e esperamos que ela possa seguir se desenvolvendo. Sem sombra de dúvida, vivemos um momento de fortalecimento do movimento estudantil. Para que possamos seguir fazendo avançarem as lutas, é preciso construir uma nova ferramenta nacional de luta dos estudantes. Debater como esta ferramenta deve funcionar e, a partir daí, dedicar nossos esforços para construí-la é fundamental. Não apenas para as lutas de hoje, mas também para as de amanhã. O Encontro Nacional de Estudantes certamente é parte destes esforços e contribuirá no desenvolvimento deste debate e na construção de uma alternativa. A construção desta ferramenta é um desafio que está colocado para a nossa geração. Temos certeza que venceremos, se não tivermos desaprendido a aprender.

7 de jul. de 2008

A última eleição teve como uma de suas características a candidatura de vários famosos. Mas o pior não foi tanto a candidatura dos mesmos e sim, a vitória de alguns. com a vitória destes famosos fizeram com que alguns deputados -"celebridades" fossem eleitos sustentados não por propostas, mas sim por simplesmente serem conhecidos na mídia, ou por serem destaques por qualquer outra coisa. Em São Paulo, por exemplo, foram eleitos Clodovil e Frank Aguiar como Deputados Federais. Não vejo nenhum problema em algum destes, terem realmente ideal político, se candidatarem (ganhar é outra coisa). Mas espero que não sejam eleitos utilizando como trampolim a fama que cada um possui. Vamos analisar a idéia de cada um (que nem todos terão). Não podemos deixar que nossas câmaras sejam confundidas com câmeras (entendeu), que nossas assembléias sejam confundidas com palcos, que nossos votos sejam confundidos com ingressos, que nossos cadernos políticos sejam confundidas com colunas sociais. Enquanto PTB, PPS e PT do B filiaram artistas, famosos e celebridades para lançar como candidatos nas eleições de 2008, o PC do B de São Paulo escalou um time de esportistas, como a bandeirinha Ana Paula Oliveira e o mesa tenista Hugo Hoyama, para "fortalecer o partido" e, "quem sabe", um deles entrar na disputa eleitoral. O atual pragmatismo da política brasileira, impera de modo a gerar contradições profundas junto ao eleitor. As alianças com novos orientadores demonstra uma profunda contradição de termos, que mina a confiança comum nas instituições. Newton Cardoso, Orestes Quércia e Jader Barbalho não representam os anseios do povo.(companheiros de palanque no PT) O pragmatismo que impera em nossa senda partidária corroeu a confiança dos eleitores na capacidade de mudança, em seus variados sentidos, por meio da política. A presidente estadual do PC do B, Nádia Campeão, confirmou as recentes (?aquisições?) do partido e garantiu que nenhum dos novos filiados tem o compromisso de se candidatar. Porém, não descartou a possibilidade de a bandeirinha Ana Paula disputar uma vaga na Câmara de Vereadores de São Paulo. "Essa possibilidade existe", afirmou. Ana Paula disse que foi procurada por vários partidos, mas escolheu o PC do B A bandeirinha disse que se filiou ao PC do B "dentro do tempo hábil" --antes de 5 de outubro de 2007-- para disputar as eleições de 2008, mas não com a intenção de se candidatar. "Pode ser que na convenção indiquem o meu nome, mas minha prioridade é o futebol", afirmou. Numa sociedade de dominação as idéias da classe dominante tornam-se as idéias dominantes na sociedade Essa classe que se encontra no poder vai fazer uso de todos os mecanismos possíveis e imagináveis para distribuir suas idéias para todas as pessoas, fazendo com que acreditem apenas nelas. Quando voto num candidato estou fazendo também uma "escolha" determinada pois, na democracia representativa, os discursos são construídos de forma ideológica para convencer o eleitor de que aquele candidato é o melhor. Não foi por acaso que o filósofo Herbert Marcuse afirmou que "na sociedade, os políticos também se vendem, como sabonetes". A ideologia burguesa passa a dominar todos os nossos atos. Quando nos convencemos da verdade dessas idéias, passamos agir inconscientemente guiados por elas, ou seja, o corpo de idéias constituído atravessa nosso pensamento sem nos darmos conta e passamos a desejar o que o outro determina: quando compro um sabonete ou um creme dental, estou fazendo uma "escolha" que me foi determinada, os discursos são construídos de forma ideológica para convencer o eleitor de que aquele candidato é o melhor. Mas o que faz com que o poder de convencimento seja tão forte? Se ela é constituída por idéias que falseiam a realidade para que na sociedade tudo continue como está, por que as pessoas simplesmente não se revoltam contra ela? É parece que a coisa não é assim tão simples. Se fosse, não estaríamos imersos em todo esse processo de dominação e submissão das pessoas. Para tentar entender o processo de "?funcionamento? da ideologia burguesa" vejamos o que leva um sujeito a fumar Hollywood? Por que ele não se dá conta de que seu sucesso não depende do cigarro que ele fuma ou deixa de fumar? É claro que todo indivíduo deseja ter sucesso na vida. Mas também é evidente que, numa sociedade de dominação e desigualdades, o sucesso não é possível para todos. Para que alguns possam ser muito bem - ?sucedidos?, é necessário que muitos outros permaneçam na miséria, se for alardeado pelos meios de comunicação que o sucesso não é possível para todos, certamente teremos uma dose de inconformismo social que pode levar até mesmo a violentas revoltas.A ideologia trata então de disseminar a idéia de que vivemos numa sociedade de oportunidades e de que o sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo, cada indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos milhões de pessoas vivendo na miséria... Às vezes, alguém se esforça ao limite, mas nada de chegar ao sucesso . Ele permanece como um ideal, um sonho quase inatingível, mas do qual não abrimos mão, do qual jamais desistiremos. Você já deve Ter conseguido perceber o que estamos tentando explicar: esta ideologia funciona tão bem porque age atravessando e invadindo o íntimo das pessoas, e embora seja um corpo de idéias, não domina pela idéia, mas pelas necessidades criadas por essas idéias, pelos desejos que elas despertam. O discurso ideológico é aquele que consegue tocar nas vontades e ambições mais íntimas de cada indivíduo, dando-lhe a ilusão de sua realização. No âmbito da política, aparece da mesma forma. Observe as propagandas em época de eleições. Elas sempre tocam nas necessidades básicas das pessoas. Os candidatos que saem vencedores nas eleições são sempre aqueles que melhor conseguirem tocar nos desejos dos eleitores, que conseguiram produzir neles a idéia de uma satisfação futura. Desse modo, nem sempre votamos nos candidatos que poderiam defender melhor nossos interesses sociais; na maioria das vezes, ao contrário, votamos naqueles que, de algum modo, prometem uma satisfação para nossos desejos.Tomara que nossa esquerda se organize com pessoas sérias,renovando o quadro político caótico que aí se encontra. FONTE:Curso de Filosofia da Unimep e do Gesef Institute------------------------------João Filho- professor da rede pública de São Paulo

6 de jul. de 2008

mal entendido em Crainquebille

Sempre que se fala em mal entendido, lembro-me do conto Crainquebille, do escritor francês Anatole France.
Quando li, senti um imenso dó do velho herói, que teve sua vida (que já era medíocre) praticamente destruída por causa dos "ouvidos sistemáticos" do agente 64. Resolvi, então, escrever alguma coisa (uma espécie de ensaio) sobre o interessantíssimo, engraçado e trágico conto.
Bem, o conto é a história de Crainquebille, um velho que andava pelas ruas de Paris vendendo legumes e verduras num carrinho. No momento em que ele precisou esperar que uma freguesa lhe pagasse o que comprara, acabou por obstruir a passagem e foi advertido por um policial (o agente 64) para que saíse do caminho. Crainquebille não obedeceu porque queria receber seu dinheiro e, ao ver que o agente 64 iria lhe aplicar uma multa, começou a praguejar. O policial entendeu os resmungos como uma ofensa (“morte aos bigorrilhas”) e o levou preso. Apesar de um homem respeitado (Doutor Mattieu) testemunhar a seu favor no julgamento, Crainquebille foi condenado a quinze dias de reclusão. Quando retornou à sua rotina diária, percebeu que as pessoas o evitavam e o hostilizavam. Revoltado com isso, mas sem saber se comportar perante uma situação até então desconhecida para ele, o protagonista tornou-se um velho ranzinza, gastando em bebida o pouco dinheiro que recebia.
O mal entendido não foi originado no praguejo. A confusão na comunicação surgiu quando houve desentendimento na vontade de ambos. Crainquebille não entendeu que aquela era uma ordem a ser cumprida imediatamente. O agente 64, por sua vez, não compreendeu que Crainquebille precisava receber o seu dinheiro e teria prejuízo se saísse dali. Fazia parte do trabalho do policial ser obedecido. Se isso não acontecesse, ele sairia desautorizado da situação. Já o protagonista queria receber o dinheiro, que era seu de direito, já que a freguesa havia retirado e levado a mercadoria. Esse conflito entre os dois fez com que o agente 64 ficasse à espera de uma ofensa que, em seus ouvidos, vinha sempre representada em sua mente pela frase “morte aos bigorrilhas”. Com isso, bastou que Crainquebille começasse a praguejar para que o agente 64 ouvisse e organizasse as informações da forma como costumava interpretar os insultos.
Esse mal entendido causado tem muito a ver com a questão da inteligência de senso comum e a do modo sistemático, expostas por Bernard Lonergan. Segundo ele, a inteligência sistemática é aquela em que o conhecimento fica emoldurado em definições, e está completo, acabado. Já a inteligência de senso comum tem como característica a espontaneidade. Ela não aceita definições gerais e age por analogia que, nesse caso, consiste na assimilação (que absorve resultados de operações bem sucedidas ou não) e no ajuste (faz as modificações necessárias para não cometer o mesmo erro da operação mal sucedida). Assim, na inteligência de senso comum, não há uma definição concreta e objetiva e, sim, um aprendizado que, conforme é usado, pode sofrer modificações de sentido, de acordo com o seu sucesso ou o seu fracasso.
Em vista disso, pode-se entender que o agente 64 estava utilizando um modo sistemático de pensamento, quando deveria utilizar a inteligência de senso comum. Sua definição de insulto estava limitada à frase “morte aos bigorrilhas” e tudo que lhe parecesse ofensa era recebido dessa forma. A prova disso é que, durante o julgamento, ao ser interrogado pelo presidente quanto ao que disse o Dr. Mattieu (defendeu Crainquebille ao dizer que este não ofendera o policial), o agente 64 diz que o médico também o ofendera. Segundo ele, esta ofensa também foi um grito: “morte aos bigorrilhas”.
Com Crainquebille o problema foi outro. Apesar de o protagonista utilizar o pensamento sistemático em situações em que se deveria usar o de senso comum, como será visto adiante, nesse caso o que o prejudicou foi sua dificuldade com relação à linguagem. O texto diz que ele não era bom com as palavras e isso o impediu de esclarecer o mal entendido com o policial. O problema não era apenas de vocabulário, muito pobre e vago, mas também de construções sintáticas. Ao perceber essa dificuldade, é possível vir à mente Fabiano, herói de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. De fato, a relação entre ambos é bem possível no que diz respeito à linguagem. No conto lemos:
“Crainquebille tentou expor-lhe o acontecido, o que não lhe era fácil, pois não tinha o hábito da palavra”. “Esse interrogatório teria produzido mais luz se o acusado tivesse respondido às perguntas que lhe eram feitas. Mas Crainquebille não era afeito às discussões, e, num tal ambiente, o respeito e o espanto trancavam-lhe a garganta”.
Já em Vidas Secas, lemos:
“às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopéias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas”.
A posição social de Crainquebille e Fabiano pode ser a causa da dificuldade que ambos têm com as palavras. Com isso, pode-se comparar a diferença social de diversas personagens do conto e como ela influencia a linguagem de cada um. Os advogados e o presidente do tribunal sabiam utilizar a linguagem, tanto que o advogado de defesa quase convenceu o presidente de que seu cliente era inocente. Se não conseguiu, não foi por problema de retórica, mas novamente o social: o texto diz que, naquela época, os policiais eram muito bem vistos e respeitados. O presidente não poderia desacreditar um protetor da lei e da ordem. Por isso, mesmo com o testemunho do doutor Mattieu a favor de Crainquebille, o agente 64 acabou vencendo o processo.
A mesma falta de familiaridade com a linguagem é a causa de Crainquebille não conseguir se defender das injustas acusações. O herói aceitava o que acontecia sem se revoltar. Ele não tinha idéia da injustiça que sofria, chegando a achar correto que o condenassem, apesar de se saber inocente. Isso é incoerente, mas Crainquebille não conseguia perceber isso. Chegou a pensar inclusive na possibilidade de realmente haver gritado “morte aos bigorrilhas!”, de alguma maneira misteriosa, mas de que não conseguia se recordar. Contudo, apesar de ter pensado até no sobrenatural, não pensou que o presidente pudesse estar errado Ele tinha consciência de sua inferioridade em relação ao agente 64 e ao presidente do tribunal. Por isso, não podia passar em sua cabeça que aquelas pessoas tão importantes estivessem erradas. Era normal que tudo o que elas dissessem fosse considerado, ele não era ninguém para se queixar. Com o policial, ocorria quase o contrário: como autoridade, a razão deve ser dele e, se não é obedecido, sente-se ofendido (como já vimos, uma definição sistemática de ofensa) e toma as providências necessárias para que a “justiça” seja feita.
Assim, é possível interpretar como sistemática a maneira com que Crainquebille enxerga o mundo e o espírito jurídico que o rege. A sociedade é dividida em camadas, sendo natural que algumas tenham mais privilégios que outras. Não há possibilidade de ascensão e não há nada de errado nisso. Sua definição de justiça estava completa, não aceitava modificações nem adaptações.
Ao que parece, Crainquebille utilizava o modo de inteligência sistemático para muitas outras definições da vida. Quando ele elogia a limpeza e higiene da cela onde esteve, não podemos saber se o ambiente era realmente limpo ou se o protagonista o considerou assim porque sua idéia de limpeza era diferente da que geralmente se tem. O que se pode saber era que o ambiente em que costumava descansar ou dormir não era de muito conforto e provavelmente não havia muita higiene. Comparando seu ambiente de descanso e a cela para onde o levaram, Crainquebille elogiou o espaço, chegando a dizer que era possível comer no chão.
Ao sair da cadeia, o protagonista vê-se evitado pelos que antes eram seus fregueses. A partir disso, ele enxerga como realmente era injusta a sociedade em que vivia. Por não saber se comportar perante esta situação, o velho Crainquebille tornou-se injusto (exatamente a característica que notara com tristeza no meio parisiense), tratando mal as pessoas, mesmo aquelas que não mudaram de atitide em relação a ele. O conto diz:
“Não há como negar: ele tornou-se inconveniente, ranzinza, rixento, deslinguado. É que, achando a sociedade imperfeita, não tinha ele a aptidão de um professor da Escola de Ciências Morais e Políticas para exprimir o que pensava sobre os vícios do sistema e as reformas necessárias, e as idéias não se lhe desenrolavam na cabeça com ordem e medida.”
Crainquebille não possuía experiências de vida para lidar com a imperfeição que recém descobrira na sociedade. Esse problema parece ser de senso comum. Ele percebeu que sua definição sistemática para justiça estava equivocada no meio onde se encontrava. Lonergan afirma que “o homem de senso comum está preparado para falar e agir apropriadamente em todas as ocasiões normais em seu meio ambiente”. Um homem de senso comum sabe exprimir sua forma de pensar de acordo com a situação a ser encarada. Ele deve adaptar o seu próprio senso comum, para não parecer um estranho ou um louco, como aconteceu com Crainquebille.
Ao final do conto, pode-se pensar numa distante evolução no senso comum de Crainquebille. Ao se ver na rua, passando frio e fome, lembrou-se da cadeia, onde tinha teto, comida e cobertor. Percebeu então que estar lá era melhor do que permanecer na situação terrível em que se encontrava. Daí Crainquebille lembrou-se do motivo por que foi preso: procurou um guarda e lhe gritou: “morte aos bigorrilhas!”, pensando que este se sentiria ofendido e o prenderia, da mesma forma como fez o agente 64. Porém, o policial não se importou, considerando-o um velho louco. Com esse fracasso, o protagonista percebe que sua tentativa de modificação falhou. Essa evolução de seu senso comum é vista como bem distante, já que essa modificação ainda era equivocada e nã se encaixava às situações normais.
Também é possível ver esta tentativa como sistemática, se for levado em consideração que Crainquebille estava utilizando uma espécie de fórmula lógica: se “morte aos bigorrilhas” ofendia o agente 64, a mesma expressão deveria ofender quaisquer outros agentes. Essa idéia também se fechou numa definição paradigmática. Se o seu aprendizado tivesse sido de senso comum, Crainquebille teria pensado em outras formas de desacato ao policial e muito provavelmente teria atingido seu objetivo, que era o de voltar à cadeia.
Por tudo o que consegui pensar sobre o conto, podemos concluir que Crainquebille possui uma crítica à sociedade parisiense da época, em que pessoas como o protagonista eram molestadas por causa da linguagem e indignas de serem consideradas cidadãs. Também é possível concluir que o problema de linguagem dessas pessoas era devido, entre outras causas, à confusão ao utilizar a inteligência sistemática e a de senso comum.
Se você se interessou pelo conto e deseja lê-lo, não é difícil encontrá-lo: o livro de contos entitulado Crainquebille (nome do nosso conto, parece ser o principal) pode ser encontrado na maioria das bibliotecas públicas, tanto em português como em francês. Também está presente em português na antologia Os 100 melhores contos de crime e mistério da literatura universal, organizada por Flávio Moreira da Costa. Isso sem contar que ele está presente em inúmeros sites de downloads...
Se você se interessou pelo texto de Bernard Lonergan, pode encontrá-lo em espanhol na página http://www.lasalle.org.ar/sap/lonergan/Horizontesqueseunen.htm

FAÇA SUA PESQUISA