26 de jun. de 2008

Xenofobia

perplexidade e muita revolta a aprovação da Diretiva de Retorno, lei que endurece as relações dos governos da União Européia (UE) com os imigrantes. A nova lei foi aprovada pelo Parlamento Europeu no último dia 18. O seu conteúdo é profundamente racista e xenófobo. A Diretiva vai permitir que os governos da UE mantenham presos por até 18 meses imigrantes clandestinos ou solicitantes de asilo não atendidos, antes de sua deportação. O absurdo do novo texto é tamanho que admite implicitamente a deportação de alguma criança ou menor que não esteja acompanhado dos pais. Além disso, todo imigrante que for expulso da União Européia será proibido de ingressar em qualquer país do bloco por pelo menos cinco anos. Várias organizações de defesa dos direitos humanos alertam também para a possibilidade da diretiva permitir deportações para países onde os migrantes podem sofrer torturas, hostilidades e até a morte. É preciso colocar o contexto histórico da europa e de suas invasões ao mundo e as pessoas que eles rejeitam. A exploração dos domínios ultramarinos enquadrava? se na prática do protecionismo e do intervencionismo das monarquias absolutistas européias. A função da colônia era suplementar a economia de sua metrópole, produzindo matérias? primas, metais preciosos e gêneros agrícolas de alto valor no mercado. O comércio com as colônias era exclusividade da burguesia metropolitana, que vendia produtos manufaturados e escravos a preços elevados e adquiria as mercadorias coloniais a preço reduzido. Além disso, as colônias eram proibidas de comerciar diretamente com outras nações e não podiam se dedicar à indústria e à navegação. Esse comércio desigual,era fonte constante de atrito com os colonos, foi denominado "pacto colonial"(PACTO É QUANDO INTERESSA AOS DOIS LADOS). A venda de monopólios sobre a exploração dos produtos coloniais de suas vastas possessões permitia às monarquias sustentar a nobreza, o clero, uma dispendiosa burocracia e soldados na defesa das feitorias espalhadas pelo mundo. As potências imperialistas procuraram administrar suas colônias de modo a assegurar o aproveitamento máximo de suas riquezas. A mão de obra nativa foi então colocada a serviço da nação colonizadora, extraindo minérios, trabalhando nas lavouras, construindo pontes, ferrovias, canais e portos, a fim de favorecer o escoamento das matérias primas e dos gêneros agrícolas até os locais de embarque. Esse sistema impedia qualquer possibilidade de desenvolvimento interno das colônias e não levava em consideração as necessidades da população local. Por isso, a violência foi o instrumento usado pelo colonizador para vencer a resistência da população e mantê-la submissa. Os ingleses, geralmente adeptos da administração indireta, conseguiram controlar populações enormes e diferenciadas entre si, aproveitando-se das Instituições e das lideranças locais. Aqueles que não queriam colaborar eram substituídos Colonias de Exploração ou de Enquadramento ------------------------------------------- Eram países ou regiões administradas direta ou indiretamente por funcionários da metrópole, e que se destinavam a exportar produtos exóticos, gêneros agrícolas ou matérias primas minerais. Nesse caso enquadram-se a Índia, a Indochina e a Indonésia, nações densamente povoadas da Ásia, e grande parte da África. 0 território africano, do Saara até o sul, possuía baixa densidade demográfica e organização predominantemente tribal. A colonização européia afetou ou destruiu as instituições tradicionais (os clãs, as aldeias comunitárias, a religião totêmica) e substituiu a economia de subsistência pela "plantation" (monocultura para exportação). As rivalidades intertribais foram mantidas e/ou aprofundadas com o objetivo de favorecer a dominação estrangeira. Para obrigar as populações locais a trabalhar, o colonizador fixava impostos que somente poderiam ser pagos em dinheiro. Dessa maneira, os nativos tinham que cultivar as lavouras que interessavam aos europeus. Os endividados eram levados aos trabalhos forçados nos campos, à construção de estradas, portos e linhas férreas. 0 CASO DA ÍNDIA "Durante mais de 150 anos, até a conquista de Bengala em 1757, a Companhia inglesa das Índias Orientais manteve intensas relações comerciais com a região. A Índia era, nessa época, um país avançado economicamente. Seus métodos de produção, bem como sua organização industrial e comercial eram comparáveis" aos que prevaleciam na Europa Ocidental. Na realidade, a Índia já fabricava e exportava musselinas e outros tecidos de luxo de excelente qualidade, desde os tempos em que a maioria dos povos da Europa Ocidental vivia ainda mergulhada no atraso. No entanto, após a conquista de Bengala, a Companhia das Índias Orientais impôs a sua autoridade sobre grande parte do território indiano, e as relações comerciais mantidas durante 150 anos converteram-se em relações brutais de exploração. ( ... ) A política adotada pela Companhia das Índias Orientais nas últimas décadas do século XIX e na primeira metade do século XX visava a alcançar dois objetivos. Em primeiro lugar, contentar os milhares de funcionários gananciosos que para lá se deslocavam com a intenção de fazer fortuna do dia para a noite: "Estes funcionários, absolutamente irresponsáveis e vorazes, esvaziaram os tesouros particulares. Sua única preocupação era extorquir centenas de milhares de libras dos nativos, e retornar para a Inglaterra o mais cedo possível para exibir as fortunas recém adquiridas. Imensas fortunas foram assim acumuladas em Calcutá, num curto espaço de tempo, enquanto trinta milhões de seres humanos eram reduzidos mais negra miséria." ( ) Havia ainda um objetivo a longo prazo: desestimular ou eliminar os fabricantes indianos, e transformar a Índia em mercado e em fonte de abastecimento de matérias-primas para a indústria britânica, sobretudo as suas manufaturas têxteis. Essa política, executada de forma brutal e metódica, produziu os resultados esperados. "A administração britânica na Índia empreendeu a destruição sistemática de todas as fibras e alicerces da economia indiana para que em seu lugar se instalassem parasitariamente, os proprietários de terra e os prestamistas. Sua política comercial resultou na destruição do artesanato indiano, e deu origem às infames FAVELAS DAS CIDADES indianas, nas quais se aglomeravam milhões de indigentes famintos e doentes. Sua política econômica cortou pela raiz os rebentos de um desenvolvimento industrial autóctone, favorecendo a proliferação de especuladores, pequenos comerciantes e espertalhões de toda espécie que levavam uma vida miserável e improdutiva nas malhas de uma sociedade em decadência".(2) ( ... ) As conseqüências da presença britânica na Índia eram evidentes ao se abrir o século XX. Em 1901, a renda "per capita". era inferior a 10 dólares por ano. Cerca de dois terços da população encontrava-se subnutridos. A maior parte das manufaturas indianas fora arruinada ou tomada pelos ingleses. Aproximadamente 90% da população lutavam com enormes dificuldades para prover a sua subsistência em aldeias onde a propriedade média era de apenas 5 acres e as técnicas agrícolas, extremamente primitivas. Do pouco que produziam, uma parte substancial era apropriada pelos ingleses sob a forma de imposto, rendas e lucros. Grassavam as epidemias e reinava a fome. Em 1819 o indiano vivia em media 26 anos para em seguida, morrer na miséria. TRANSCRITO DE: HUNT & SHERMAM. História do pensamento econômico, Petrópolis, ED. Vozes, 1990, p. 149/151 e 153. (1) BROOKS, Adams. The Law of Civilization and Decay. An Essay on History. New York, 1896. Citado por: BARAN, Paul A. The Political Econom of Growth. New York, Monthly Review Press, 1962, p. 145. (2) BARAN, po. cit. p. 149. O CASO DO CONGO (ZAIRE) Provavelmente, em nenhuma outra colônia africana a exploração européia revestiu-se de características tão brutais quanto no Congo Belga. Em 1879, Leopoldo II, rei da Bélgica, enviou H. M. Stanley em missão à África central. A serviço de uma companhia privada com finalidades lucrativas, dirigida pessoalmente por Leopoldo e alguns associados, Stanley criou uma rede de postos comerciais e, usando de astúcia, convenceu os chefes nativos a assinarem "tratados" autorizando o estabelecimento de um império comercial que abarcava cerca de 900 000 milhas quadradas. Leopoldo arvorou-se em autoridade soberana do Estado Independente do Congo e empreendeu a exploração dos recursos humanos e naturais da região em proveito de sua própria companhia. A exploração foi impiedosa. Trabalhando sob constante coação física, os nativos foram forçados nas florestas a extrair o latex com o qual faziam borracha e a caçar elefantes dos quais extraiam o marfim. Leopoldo confiscou todas as terras que não eram diretamente cultivadas pelas comunidades locais, transformando-as em "propriedade governamental". As piores atrocidades foram cometi das para obrigar os nativos a se submeterem a um opressivo sistema fiscal, que incluía impostos pagáveis em borracha e em marfim e sob a forma de prestações de trabalho. No século XX, o Congo passou a fornecer outros recursos naturais: diamantes, urânio, cobre, algodão, azeite de coco, semente de coco e coco. Pode-se dizer que, de um modo geral, o Congo foi uma das mais lucrativas possessões imperialistas européias e tam bem uma das mais escandalosas. TRANSCRITO DE: HUNT & SHERMAN, op. cit. P. 152 As colônias de povoamento ou enraizamento ------------------------------------------- Nas regiões de clima temperado, estabeleceram-se colônias de povoamento, com ampla migração de população "branca" européia (que havia dobrado do decorrer do século XIX), em busca de melhores condições de trabalho, de alimentação e de moradia. Foi o caso da colonização inglesa na Rodésia e no Cabo (África do Sul), na Austrália e na Nova Zelândia (Oceania) e no Canadá (América do Norte); da colonização francesa na Argélia (África) e na Nova Caledônia (Oceania) e da colonização portuguesa em Angola e em Moçambique (África). Nesse tipo de colônia, as minorias européias ocupavam posições sociais, econômicas e administrativas dominantes. Os nativos foram EXPROPRIADOS de suas terras pelos europeus e excluídos até mesmo das mais simples funções burocráticas; em qualquer atividade, os brancos recebiam salários mais elevados. Essa situação deu origem a conflitos particularmente agudos, como a guerra civil pela independência da Argélia e a política do "apartheid" da África do Sul. O método usado para a ocupação das terras dos nativos foi à pressão ou violência, como podemos perceber nas palavras do Comandante Poinçot, na Argélia: "Se quiséssemos, poderíamos tomar vossas terras, mas nós vos solicitamos que no-las dêem; ... nosso governo não quer usar de seu poder e deseja obter de vós pela persuasão o que não poderíeis igualmente recusar diante de nossos (Cit. por FALCON, F. & MOURA, G., op. cit. p.107). O CASO DA ÁFRICA DO SUL ------------------------ A Inglaterra apoderou-se das regiões mais populosas e ricas doa África. Desde o início do século ela ocupava a cidade do Cabo e -Lambem Natal. Em 1870, Cécil Rhodes embarcou para o Cabo, por motivo de saúde. Graças ao seu tino para os negócios e à habilidade com que açambarcou o mercado de diamantes, no curto espaço de dois anos transformou-se em um milionário. Nos anos subseqüentes, a Companhia Britânica da África do Sul, dirigida por Rhodes, estendeu o domínio sobre toda a África do Sul. Embora fosse uma empresa privada, com finalidades lucrativas, estava investida de poderes comparáveis aos de um governo. Tinha, por exemplo, autoridade (concedida por carta patente em 1889) para "firmar tratados, promulgar leis, preservar a paz, manter uma força policial e adquirir novas concessões" A Política expansionista da Companhia Britânica da África do Sul culminou na Guerra dos Bôers (1899-1902). As repúblicas holandesas de Orange e do Transvaal foram esmagadas e a Inglaterra adquiriu o controle total sobre a África do Sul. Mais tarde, seriam descobertas jazidas riquíssimas de minério, principal recurso natural da região. 0 mais explosivo legado do imperialismo britânico e holandês são os mecanismos discriminatórios erguidos contra os negros que constituem a maioria esmagadora da população. TRANSCRITO DE: HUNT & SHERMAN, op. cit. p. 152/153. OUTRAS FORMAS DE DOMINAÇÃO IMPERIALISTA Alem das colônias de exploração e de povoamento, existiram outras formas de dominação imperialista, em países onde aparentemente a independência política foi mantida. A dominação se deu basicamente na área econômica, caracterizando as chamadas áreas de influência e as áreas de penetração financeira. a) As Áreas de Influência -------------------------- Essa forma de dominação ocorreu em países onde o Estado existente foi conservado e com o governante local foram negociados tratados e acordos que beneficiavam a potência colonizadora, em determinada área do país. Nessa "área de influência'', a metrópole podia atuar sob a proteção de privilégios especiais em detrimento dos possíveis competidores europeus. Foi o caso da Pérsia, que em 1907 se viu repartida em duas áreas de influência, uma russa e outra inglesa, e da China, cujo território foi dividido em seis áreas de influência: inglesa, francesa, alemã, italiana, russa e japonesa. O CASO DA CHINA ---------------- A China, desde a "guerra do Ópio" (1835-1842), já havia sido obrigada, diante do potencial de fogo dos ingleses, a assinar tratados desiguais, isto é, tratados nos quais ela concedia vantagens à Europa sem contrapartida. Para conseguir um desses tratado de 1860, tropas francesas e britânicas chegaram até mesmo a destruir o Palácio de Verão de Pequim, um dos tesouros artísticos insubstituíveis da humanidade. ( ... ) Após o saque de Pequim, um inglês foi indicado para "assistir"a administração de toda a receita da alfândega chinesa. vários portos foram abertos, mercadores estrangeiros receberam liberdade de movimento e imunidades diante da lei chinesa. Esse método de penetração tão violento adveio do fato de a China, diferindo da Índia, possuir uma unidade política, com um imperador fazendo sentir sua autoridade sobre as províncias mais distantes. Basta dizer que, até antes da chegada dos europeus ela recebia tributos da Coréia, do Vietnã e de outras monarquias da região: Sião, Laos, Birmânia e Nepal. Na verdade, era o império, mais elaborado e mais antigo de todos os Estados monárquicos da Ásia Oriental. Por essas razões, a China sempre se recusara a admitir relações com o resto do mundo em posição de desigualdade. E manteve-se fechada a qualquer tipo de comércio com o Ocidente. Foi a "guerra do ópio que mareou o início da preponderância ocidental na China. Nas o desmembramento da China aconteceu mesmo quando o Império, enfraquecido com os tratados desiguais, teve que enfrentar uma guerra com o Japão (1895). Foi "salvo" do desastre pela intervenção das potências européias. Gomo reconhecimento ao serviço prestado, as nações européias receberam concessões econômicas e territoriais. A partir daí, a China passou a ser um território dividido em áreas de influencia das potências ocidentais. Não só a França e a Inglaterra penetraram no território Chinês, como também a Rússia, a Alemanha e a Itália. A penetração econômica se precipitou rapidamente com a construção de linhas de estradas de ferro, concessão de minas, estabelecimentos industriais e bancos. E a soberania chinesa transformou-se numa ficção. TRANSCRITO DE: CANÊDO, Letícía Bicalho. A descolonização da Ásia e da África. São Paulo, Atual, 1985, p. 127137 b) As Áreas de Penetração Financeira -------------------------------------- Em alguns países independentes, porém não industrializados, a dominação imperialista ocorreu através da negociação com os governos locais de acordos comerciais, industriais ou financeiros que beneficiavam basicamente os setores exportadores das elites locais e a burguesia dos países industrializados. Nesses casos, não houve preocupação com a dominação política. O CASO DO EGITO ----------------- O Egito, um principado virtualmente independente, foi vítima de sua riqueza agrária e da sua situação estratégica (situado entre o Oriente Médio e a África Negra), A sua riqueza agrária integrou-o na economia européia como fornecedor de produtos agrícolas. A vasta expansão do comércio egípcio atraiu levas de homens de negócios e aventureiros prontos a conceder créditos ao governo, que pensava em transformar o Egito num poder moderno. Mas os homens de negócios extorquiram o povo egípcio e, quando os egípcios não puderam pagar mais os juros dos empréstimos, a gestão das --finanças públicas passou para o estrangeiro, com a desculpa do governo egípcio estar comprometido com enormes despesas e incapacitado de pagá-las. Como não havia FMI na época, foi instituído um condomínio franco-inglês. Nominalmente, como na China, a independência política subsistia, mas gradativamente os funcionários britânicos passaram a administrar a polícia, as finanças, as comunicações, as alfândegas e os portos. TRANSCRITO DE: CANEDO, L. B., op, cit. p. 19/20. O CASO DA AMÉRICA LATINA ------------------------- A América Latina, cuja independência política fora adquirida no primeiro quartel do século XIX, continuou produzindo minerais e gêneros agrícolas para o mercado externo, nos moldes do período colonial mercantilista porém, sem a presença da Espanha e de Portugal, substituídos pela burguesia européia, principalmente inglesa. A penetração financeira se deu através de empréstimos, aparelhamento de portos, investimentos em transportes e serviços urbanos. A intermediação era feita pelas classes dirigentes locais, sem necessidade de administração direta por parte das potências européias. 0 Brasil não fugiu à regra. De 1822 a 1930 (Império e 1a. República), o país continuou a fornecer à Europa e aos Estados Unidos café, açúcar e a importar manufaturados. A elite dominante brasileira, formada por fazendeiros e exportadores de café e de açúcar, defendia o livre comércio e não se interessou em incentivar a industrialização do país. Os governos da República, nas mãos da burguesia cafeeira paulista, buscaram empréstimos na Inglaterra para financiar a expansão da cafeicultura, melhorar os portos, abrir ferrovias e criar serviços urbanos que atendessem ao setor agro-exportador, o que representava ótimos investimentos para banqueiros, industriais e acionistas britânicos, criando, ao mesmo tempo, forte dependência econômica. Resultados: Surge a concentração de renda. Altíssima propensão para importar. FOME das camadas menos desfavorecidas.EX: Brasil no período do açúcar. No final do século XIX, ocorreu a partilha da África entre as maiores potências européias, que criaram um aparato doutrinário para justificar a iniciativa. Foi desenvolvida uma doutrina paternalista de que a população desse continente era incapaz de se auto-governar e de desenvolver instituições organizadas segundo as exigências do Estado-nação O paternalismo ocidental representado nas proposições defendidas pelos Estados que partilharam a África foi institucionalizado na Liga das Nações com a criação das Comissões de Mandato Permanente, instituídas principalmente para os territórios que antes pertenciam às potências derrotadas na Primeira Guerra. O artigo 22 da Convenção da Liga prescrevia a necessidade de se criar uma tutela exercida por certas nações avançadas sobre territórios habitados por povos ainda não capazes de se manterem por si mesmos, segundo as exigências do mundo moderno (Chadwick, 1996, p.18). expansão da idéia de sociedade internacional, nos anos trinta, ainda havia vastos territórios na Ásia, África e Oceania que não passavam de questões de jurisdição interna de potências coloniais (Mills, 1998, p. 69. No entanto, depois de 1945, o princípio da autodeterminação dos povos ganhou a agenda internacional de forma bastante enfática, transformando toda forma de dependência – seja protetorado, mandato, colônia ou tutela – indesejável para o sistema de Estados. O "sistema legal" da ONU é permeado por normas que garantem o direito à autodeterminação dos habitantes das colônias, repudiando a prática do colonialismo. A autodeterminação passou a ser um pressuposto para o respeito aos direitos humanos e, sendo assim, tanto o Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais quanto o Pacto de Direitos Civis e Políticos prescrevem que todos os povos têm o direito à livre ?determinação?. Em virtude deste direito eles livremente estabelecem sua condição política e provêem seu desenvolvimento econômico, social e cultural (?Artigo 1.?) Mesmo hoje, porém, o imperialismo ainda é uma força poderosa que determina as relações econômicas, políticas e militares entre os países ocidentais ricos e a periferia pobre. E, para sustentar essa dominação, é absolutamente indispensável um sistema ideológico que estabeleça as diferenças entre o ocidente civilizado, defensor da liberdade, da propriedade e da dignidade humana e a brutalidade bárbara dos dominados, que necessitam da orientação e tutela do ocidente. Este discurso é empregado muitas vezes, ainda que veladamente. Usando o conceito de hegemonia de Gramsci, Edward Said (1990) identifica o que ele chamou de orientalismo como a cultura hegemônica na sociedade européia e ocidental. Prevalece entre os europeus a idéia de que a identidade ocidental é superior à identidade dos povos e culturas não européias O que há de mais sólido na dimensão conceitual do imperialismo é a idéia de inferioridade do outro. O imperialismo não se limita em estabelecer essa inferioridade, mas legitima-a e aprofunda-a através de arcabouços ideológicos. A produção da inferioridade foi crucial para sustentar a dominação européia. Nesse processo, é necessário recorrer a múltiplas estratégias de inferiorização e para isto não tem faltado imaginação ao ocidente. A percepção do "selvagem" passou por várias transformações ao longo dos anos, mas sua matriz continua na teoria da “escravatura natural” de Aristóteles, segundo a qual a natureza criou duas partes: uma superior destinada a mandar e uma inferior destinada a obedecer. Os habitantes das Américas e da África foram objeto de dois discursos diversos para a fundamentação da sua dominação pelos ocidentais, um protagonizado por Juan Ginés de Sepúlveda e outro por Bartolomeu de Las Casas. Para Sepúlveda, fundado em Aristóteles, os habitantes das terras novas eram seres inferiores, animalescos, pecadores contumazes que deveriam ser integrados na comunidade cristã pela força ou então eliminados, caso houvesse resistência. Se resistissem à dominação natural e justa dos povos superiores estariam justificando sua própria destruição. A esta violência civilizadora se opôs Las Casas, que considerava os povos indígenas seres racionais e livres, dotados de instituições e culturas próprias. Las Casas denunciou o discurso a respeito da inferioridade no nível individual Cesare Lombroso, criminalista italiano, procurou provar sua teoria de que caracteres físicos apontavam para o tipo criminoso de cada um. Rostos alongados ou curtos, olhos amendoados ou pequenos, narizes afilados ou arredondados, tudo isto determinava se este seria um estuprador, um ladrão ou um assassino.Estes discursos foram proferidos na disputa promovida em 1550 por Carlos V a respeito da dominação das américas (Santos,1999). SERÁ QUE MUDOU ALGUMA COISA?,OU CONTINUAMOS NA MESMA SITUAÇÃO? ------------------------------------------------------------------- João Filho,professor eventual da rede pública de São Paulo.

21 de jun. de 2008

SELVAGEM PARTE 2

Manifestantes, caminharam da Igreja da Candelária até o Comando Militar do Leste, pediram o fim da homofobia no Exército brasileiro.(e na sociedadede como um todo). Matéria de capa da revista Época do domingo 1 de junho, com a história do casal Laci Araújo Marinho e Fernando Alcântara de Figueiredo, sargentos do Exército nacional – o primeiro é norteriograndense e o segundo é pernambucano –, relata o que é sabido: nas forças armadas de diversos países, existem gays e lésbicas e estes podem ser tão bons e importantes profissionais como aqueles que se declaram heterossexuais (sim, os heterossexuais se declaram como tais a todo momento. Ninguém estranha, tornou-se natural: contam suas histórias de amor, beijam-se e andam de mãos dadas em público, aparecem em cenas de afeto e sexo em filmes, novelas etc. Toda a esfera pública é dominada por sua heterossexualização. É a dita normalidade!). A reportagem da revista revela também que os militares gays estão casados há mais de sete anos e que os dois se querem, amam-se. Mas a matéria revela igualmente, alguns detalhes, à perseguição praticada contra os dois pelo comando do Exército, através da ação homofóbica de alguns de seus superiores no comando da 11ª Região Militar. Perseguição que inclui a prisão em 4 de junho, do sargento Laci Araújo, após entrevista a programa de TV(super pop). Na saída do estúdio em que dava entrevista ao vivo, ao lado de seu companheiro, foi cercado por soldados do Exército com mandado de sua prisão. (...De fato, após meio século da Declaração Universal dos Direitos Humanos,lastimavelmente, o Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) ainda tem muito a denunciar:a cada dois dias um homossexual continua sendo brutalmente assassinado no Brasil,vítima da homofobia LUIS MOTT). Matérias que circulam na imprensa de Brasília dão conta que o sargento Laci Araújo é perseguido também em razão de sua atividade como artista, pois, além de sargento do Exército nacional, ele fazia cover da cantora Cássia Eller em shows na capital federal. Seus shows tornaram-se sucesso. Os comandos do Exército (como, de resto, quase toda a sociedade ) preferem a invisibilidade dos homossexuais. De fato, o que socialmente incomoda é a visibilidade da existência gay, a conquista e a afirmação de direitos, o reconhecimento social e político. Enquanto permanece no silêncio e na invisibilidade, a homossexualidade é admitida, embora cercada de preconceito. A violência e crimes de homofobia continua aumentando Convém insistir num ponto: não se trata crimes comuns, fruto de assalto ou bala perdida, nem de “crimes passionais” como as páginas policiais costumam noticiar. São crimes de ódio, em que a condição homossexual da vítima foi determinanteno modus operandi do agressor. É a ideologia machista e homofóbica, que desqualifica travestis, lésbicas e gays como subumanos,criaturas vulneráveis e desprezíveis que merecem ser agredidas e assassinadas. “Viado tem mais é que morrer!”, diz o ditado popular repetido de norte a sul do país.Em nosso país, vergonhosamente, a homofobia tem inspiração e se legitima no próprio discurso oficial de personalidades de grande destaque institucional na "elite" brasileira. Que o leitor faça seu próprio julgamento dessas abomináveis declarações de ódio, desprezo e estímulo à violência anti-homossexual registradas em plena virada do terceiro milênio: seus autores também são responsáveis por tais crimes.Na Universidade de Santa Cruz, RS, foram distribuídos panfletos e adesivos com as seguinte palavra de ordem: “Mate um homossexual!”. Em um dos programas de maior audiência popular, quando ainda na TV Record (da Igreja Universal), a apresentadora Ana Maria Braga divulgou a seguinte piadinha: “Você sabe qual é a maior tristeza de um pai caçador? Ter um filho veado e não poder matar!”. O bispo de Erechim, RS, D. Girônimo Anandréa declarou: “Os homossexuais nunca constituíram uma família. E nem vão constituí-la no futuro. O bem comum da sociedade requer a desaprovação do seu modo de agir”.O pastor Túlio Ferreira, da Assembléia de Deus de São Paulo, disse: “O homossexualismo é uma anormalidade, uma profanação do nome de Deus, pois a homossexualidade é uma maldição divina e por isto todos os homossexuais serão conduzidos pelo diabo à perdição eterna”. Dom Eusébio Oscar Scheid, ex-Arcebispo Metropolitano de Florianópolis e atual do Rio de Janeiro, declarou: “O homossexualismo é uma tragédia. Gay é gente pela metade.Se é que são gente!”. (...Nestes últimos quatro mil anos da história humana, o Ocidente repetiu, ad nauseam,que o amor e o erotismo entre pessoas do mesmo sexo eram “o mais torpe, sujo e desonesto pecado”, e que por causa dele Deus castigava a humanidade com pestes, inundações,terremotos, etc... LUIS MOTT). Toda a pressão psicológica sofrida pelo sargento Laci Araújo o adoeceu. Hoje, ele é portador de síndromes que certamente tem relação com o sofrimento que experimenta. À repressão a que foi submetido no Exército some-se a angústia que guardou por muito tempo, produzida pela violência do silêncio a que gays e lésbicas são submetidos. O caso é claro: ódio contra aqueles que não se deixam tornar reféns do preconceito, Ódio contra aqueles que, felizes, não vivem sua sexualidade com culpa, vergonha, medo e alienação. Não deixemos que o sargento Laci Araújo torne-se um novo Oscar Wilde, poeta e escritor, que, em 25 de maio de 1895, na Inglaterra, foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados pelo crime de amar um rapaz. Todos nós, homossexuais ou não, devemos combater o preconceito e suas atrocidades. Não há mais desculpas para ninguém ficar de fora desse combate. O Brasil não pode mais continuar admitindo violências como as que agora são submetidos os sargentos Laci Araújo e Fernando Alcântara. (... a intolerância incendiária da Santa Inquisição, que condenava à morte os machista mandava igualmente apedrejar a mulher adúltera e a donzela impura que se fingisse virgem ao se casar...LUIS MOTT). Isto nunca mais! O preconceito ignorante e a homofobia é que merecem condenação! ------------------------------------------------------------------------------------- João Filho, professor da rede pública de São Paulo.

SELVAGEM PARTE 1

Ninguém os quer mais na comunidade. Não temos mais confiança na roupa verde do Exército.” O depoimento acima é de um operário das obras do PAC e morador do Morro da Providência, no Rio de Janeiro (RJ). Esses trabalhadores realizaram uma greve pedindo a saída do Exército da comunidade. Três jovens foram presos pelo Exército, segundo este, por desacato, na manhã de sábado. Eles foram detidos por soldados do Exército que ocupam o morro. Os homens das Forças Armadas abordaram os jovens que vinham de uma festa. Quando um deles tentou reagir, os três foram agredidos pelos militares e foram levados à presença do comandante. Cinicamente, o Exército divulgou nota afirmando que os três foram dispensados e que as tropas não teriam tido contato com eles depois, porém, a mãe de Wellington diz que depois de ser avisada sobre a prisão, encontrou o filho no Quartel de Santo Cristo, sentado ao sol. Ela foi mandada para a delegacia para onde ele deveria ter sido levado. "Após a demora, liguei para o celular dele. Depois de várias tentativas, um homem atendeu e disse que os soldados venderam o meu filho e os amigos para traficantes da Mineira. Nenhum deles tinha envolvimento com o crime. O que fizeram com eles não se faz nem com um cachorro", disse. (Agência Estado, 15/6/2008). O Morro da Providência é a mais antiga favela da cidade do Rio. Foi formada no início do século passado por soldados que retornaram do massacre que o Exército brasileiro promoveu contra a comunidade de Canudos. Esta comunidade carente, localizada bem no centro da cidade, foi escolhida pelo senador e ex-oficial do Exército Marcelo Crivella (PRB) para instalar sua obra demagógica e eleitoreira chamada de “Cimento Social” Um dos três jovens assassinados barbaramente, Wellington, iria começar a trabalhar nas obras do PAC do Morro da Providência na segunda-feira. Porém não sobreviveu até lá devido ao terror imposto pelo Exército em sua comunidade. (Um meio público de controle social presente na sociedade inclusive no Brasil, é o sistema policial Ele tem a tarefa de controlar severamente as camadas sociais rotuladas como potencialmente capazes de realizarem condutas tipificadas como crimes ou contravenções, ou seja, condutas capazes de “estragar a ordem social estabelecida". Na sociedade brasileira, os clientes deste sistema e das outras políticas de segurança,são os pertencentes da classe que sofre as conseqüências de uma péssima distribuição de renda, educação básica de baixa qualidade, desemprego crescente, entre outras situações que diminuem a chance de uma sobrevivência digna.Isoladamente, encontramos casos em que os clientes desse sistema não são os pobres, no entanto, o foco de vigilância da ação repressora se encontra sobre essa camada,Esse fato mostra que há uma escolha dos locais onde o aparato policial irá exercer sua função). Os jovens foram torturados até a morte. Seus corpos foram cortados em pedaços pelos traficantes. A polícia investiga se os militares brasileiros não venderam as três vítimas aos criminosos, prática muito comum na chamada “banda podre” da polícia carioca. (A atuação policial brasileira além de ser seletiva é extremamente violenta e preconceituosa com sua própria classe de origem. “Ela quer ser respeitada e identificada como protetora dos direitos, da lei e da justiça, garantindo a segurança de todos. No entanto, ao mesmo tempo, reforça a sua imagem social negativa quando não apenas deixa de garantir a segurança geral, como também passa a ser identificada como: violenta, corrupta e transgressora das leis). O exército está (?ocupado?) na Providência desde dezembro do ano passado, com 120 homens. A desculpa, dessa vez, é a participação no projeto do governo Federal "Cimento Social".(O PAC DO LULA E DO CRIVELLA) A intenção seria ajudar na reforma das fachadas das casas da comunidade. No caso brasileiro, é notório como também a gestão do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tratou o problema social com soluções penais.A questão social passou a ser um caso de polícia. “ Esta prática representa uma proposital e providencial – para as classes dirigentes e dominantes brasileiras- despolitização da questão social, tratando os conflitos de natureza socioeconômica e política como se fossem praticas criminosas comuns.” Nosso país possui uma realidade de falta de resolução dos problemas sociais importantes e sem quebrar com uma tradição oligárquica e elitista que é a causa primeira das disparidades sociais, consequentemente da injustiça social. ( A polícia possui uma espécie de autorização para através de todos os meios necessários e não necessários, legais e ilegais proteger os interesses das elites. A violência policial caracteriza as políticas sociais aplicadas no Brasil, ou seja, incompletas ou inexistente). Essa violência de quem detém o uso "legítimo" da força é decorrente de problemas históricos como a tradição gerada pela escravidão e fortalecida pela ditadura militar. A política social que deveria existir no Brasil seria aquela em que o aparato policial, o uso "legítimo" da força ocorresse de forma legal e respeitosa para como todos da sociedade e não apenas para aqueles que possuíssem “status”, com o real objetivo de transmitir segurança e garantia dos DIREITOS À TODOS. FONTES:
Agência Estado, 15/6/2008). André Freire,Jornal do PSTU Departamento de Direito CONTROLE SOCIAL, VIOLÊNCIA URBANA E DIREITOS HUMANOS: Ana Helena Cardoso e João Ricardo Dornelles. ------------------------------------------------------------------------------------ João Filho,professor eventual da rede pública de São Paulo.

16 de jun. de 2008

D

De Stedile a Joelmir Betting João Pedro Stedile Comentando seu comentário de ontem, no Jornal da Band Estimado Joelmir Betting, Vi seu comentário no Jornal da Band de ontem. E, me desculpe a petulância, mas gostaria também de comentar em respeito à sua trajetória histórica e à sua inteligência. (Não costumamos fazer isso, com outros comentaristas da direita, como os Rosenfields e Jabores da vida, que são pagos apenas para defender os interesses do lucro e do capital; e, por isso, usam suas línguas como cães-de-guarda a latir em defesa do patrão.) Mas, fiquei provocado com sua frase de que o nosso MST não é mais um movimento social e apenas um movimento político, porque estamos mobilizados e ocupando algumas instalações de empresas. Primeiro, desde o filósofo Sócrates, todos os seres humanos ao participarem de sociedades, têm vida política. A sociedade é uma organização em permanente disputa de poder, entre pessoas, grupos e classes. E, por isso, todos somos também políticos. Seu comentário e sua função são também políticos. E, obviamente, que todos atos do MST são também políticos, sem que, com isso, perdamos nossa condição de ser um movimento social que organiza trabalhadores do campo e da cidade para lutar por nossos direitos. E, assim, melhorar as condições de vida. Aliás, sugiro que quando você comentar que a Bungue se apropriou das fábricas de fertilizantes privatizadas da Petrobras a preço de Banana, diga que, além do lucro, ela também praticou um ato político, pois está em busca do controle, do poder sobre a sociedade de um bem essencial, que são os fertilizantes para a agricultura. E por ela ter esse tamanho poder político atualmente é que se deu ao "direito" de aumentar o preço dos fertilizantes em 130% em apenas um ano. A Votorantim também faz política, quando decide por conta e risco, ter poder sobre 650 famílias que vivem tranqüilamente no Vale do Ribeiro e, sem consultá-los, resolve tomar o rio, as águas e construir uma hidrelétrica para aumentar seus lucros. Você se redimiu quando deixou a pergunta no ar aos telespectadores. "Vocês acham que esse tipo de luta ajuda a reforma agrária?" A nossa resposta à sua pergunta está no manifesto que escrevemos coletivamente e que distribuímos aos milhares para a população brasileira, explicando porque estamos lutando (veja em: link do manifesto do MST ). Um forte abraço João Pedro Stedile MST PS: Ontem, nossos companheiros de Minas Gerais interromperam o trem da VALE, que passa carregado de minério dentro da cidade de Belo Horizonte e, nos últimos meses, já atropelou oito pessoas. Graças à nossa ocupação "política", a VALE assinou um termo de ajuste, no Ministério Público, se comprometendo em alguns meses a transferir os trilhos daquele bairro. A vitória foi intensamente comemorada pelos moradores do Bairro, ontem à noite. Foi a forma deles darem resposta à sua pergunta. * Economista, Membro do MST
Punhos cerrados contra o racismo Wilson H. da Silva,DOUTORANDO NA USP E PROFESSOR DA UNIBAN SÃO PAULO. Na manhã de 16 de outubro de 1968, o atleta negro norte-americano Tommie Smith ganhou a prova de 200 metros rasos nos Jogos Olímpicos, sediados na ardente e rebelde Cidade do México. Seu conterrâneo, também negro, John Carlos ficou em terceiro lugar na mesma prova. Até aí, nenhuma grande novidade, já que a supremacia de negros e negras em provas de atletismo era um fato há muito conhecido e, inclusive, já havia imposto uma humilhação aos delírios racistas Adolf Hither, nas Olimpíadas de 1936. O que não se esperava, de forma alguma, contudo, era a atitude que os dois tomariam ao subir no pódio para receber suas medalhas. Tomando para si a tarefa de expressar a luta anti-racista para os milhões que assistiam aos jogos mundo afora, Smith e Carlos baixaram suas cabeças e, ao invés de cantarem o hino de seu país, ergueram solenemente seus punhos ao ar, cobertos por luvas negras, mostrando que eram lutadores do movimento "black power" (poder negro), protagonizado pelos "Panteras Negras". Num ato de extrema coragem, os dois atletas subiram ao pódio sem tênis, usando apenas meias negras (como símbolo da pobreza de seu povo). Smith ainda tinha um lenço negro ao redor do pescoço, símbolo de seu orgulho racial. E Carlos trazia na mão um rosário de contas, cujo significado ele próprio explicou mais tarde: "elas foram dedicadas a todos aqueles que foram linchados ou assassinados sem que ninguém tivesse a chance de lhes dedicar uma oração; para aqueles que foram enforcados ou cobertos por piche. Foram dedicadas a todos aqueles que foram jogados para fora dos navios, durante a travessia [do Atlântico]". A ousadia (qualificada como "uma violenta quebra do espírito olímpico...") foi punida com a expulsão dos dois dos Jogos e deportação imediata para os EUA, seu quase banimento do mundo esportivo e por um verdadeiro massacre promovido pela imprensa. Para a "infelicidade" dos conservadores e racistas de plantão, contudo, o estrago já havia sido feito. O gesto de Smith e Carlos ganhou a simpatia de explorados e oprimidos mundo afora. E por toda parte, jovens negros ergueram orgulhosamente seus punhos, desafiando o racismo em seus próprios países, internacionalizando ainda mais o movimento "Black power" e lembrando ao mundo que 1968 seria também um ano que entraria para a história da luta contra o racismo. Infelizmente, não só devido à bela e heróica atitude de Tommie Smith e John Carlos. O acirramento da luta e a morte de Luther King Para milhões de negros e negras, o ano de 1968 começou em abril, não em maio, quando, no dia 4 daquele mês, o pastor e líder do movimento por direitos civis Marthin Luther King Jr. foi assassinato, aos 39 anos, em um hotel, na cidade de Memphis, no Tenesse. O assassinato do pacifista Luther King - considerado uma voz por demais moderada por muitos setores do movimento negro - foi um lamentável indício do acirramento e da polarização do conflito racial que havia eclodido nos Estados Unidos em dezembro de 1955 com o boicote aos ônibus, iniciado em Montgomery, no racista estado do Alabama, quando Rosa Parks se recusou a ceder o seu lugar no ônibus a um branco e King deu início à sua campanha pelo combate ao racismo através da "não-violência". Turbinado pela onda rebelde e revolucionária de 1968, o movimento negro ganharia um tremendo impulso no decorrer do ano, chegando, inclusive, arrancar, de um acuado presidente Johnson, a assinatura de uma nova legislação de direitos civis que proibia a discriminação racista no acesso de negros à moradia. Uma vitória que, a exemplo das leis aprovadas em 1964 e 1967 (proibindo a discriminação nos locais de trabalho, nas eleições e nos serviços públicos), no entanto, significava apenas uma gota em meio ao mar de proibições, humilhações e restrições que cercavam a população negra. Razões mais do que suficientes para justificar a radicalização da juventude negra, seu afastamento do discurso "não-violento" de Luther King e a procura por métodos mais radicais de combate ao racismo. Se no início dos anos 1960, esta busca foi expressa no surgimento de lideranças como Malcolm X, cuja trajetória foi interrompida criminosamente em 1965; na segunda metade da década, seu símbolo maior foi, com certeza, o punho cerrado que subiu ao ar na Cidade do México. O símbolo que trazia a marca do que havia de mais radical no movimento negro no tumultuado ano de 1968: os "Panteras Negras". Garras afiadas Fundado em 1966 por Huey P. Newton, Bobby Seale e outros negros de Oakland, na California - inicialmente como uma reação à violência racista policial -, o movimento já nasceu com um nome que o diferenciava da maioria dos demais: Partido Pantera Negra para a Auto-defesa. A opção por uma organização baseada numa estrutura partidária era uma progressiva novidade que, contudo, refletia uma confusa mescla de nacionalismo negro (alimentado pelas lutas por independência que varriam o continente africano), das lições deixadas por Malcolm X, do panafricanismo e de variantes diversas do marxismo, do socialismo revolucionário e de suas distorções, como o maoísmo e o foquismo guerrilheiro. Uma estrutura, contudo, sólida o suficiente para ter transformado os "Panteras" em um grupo tão eficiente em suas ações (por mais equivocadas que muitas delas foram), que os transformaram, nas palavras do fascista diretor do FBI Edgar Hoover, na pior ameaça à segurança interna norte-americana e, conseqüentemente, nos "inimigos públicos número 1" dos órgãos repressivos. Contudo, antes de sentir a mão-de-ferro de Hoover, em 1968, os "Panteras" estavam se beneficiando da mesma onda que havia impulsionado outros movimentos mundo afora e se encontravam no auge de suas atividades. Este foi o ano, por exemplo, em que Eldrige Cleaver escreveu uma autobiografia - "Soul on ice" - que, ao contrário do que pode ser sugerido pelo título (alma no gelo), incendiou as mentes de milhares de jovens. Apoiados em uma sólida estrutura militante, o discurso do grupo ecoou fortemente entre jovens e trabalhadores negros que buscavam expressar seu repúdio contra o racismo e suas pesadas conseqüências em todos os aspectos da vida social e viram suas reivindicações refletidas nos "Dez pontos programáticos" dos "Panteras" - que incluíam a luta por emprego, melhores condições de trabalho, assistência médica, educação igualitária e de qualidade, libertação dos prisioneiros negros, mudanças radicais no sistema judicial e fim da exploração capitalista, além da não-convocação para a Guerra do Vietnã. Como também foram muitos os que se identificaram com seus métodos, que iam da criação e administração de centros médicos e educacionais a estruturas que forneciam alimentação para as crianças, passando pelo patrulhamento armado das comunidades. Durante os efervescentes primeiros meses de 1968, a organização saltou de 400 para mais de 5 mil membros, espalhados em sedes localizadas em 45 cidades e responsáveis pela venda de cerca de 100 mil exemplares do jornal "The Black Panther" - que chegou a vender 250 mil cópias no início dos anos 1970. Exemplo deste crescimento e do especial impacto que a mensagem radical dos "Panteras" causou em 1968 foi a trajetória de Stokely Carmichael, que em fevereiro daquele ano havia se tornado um dos principais dirigentes do grupo. Antes disso, Carmichael tinha liderado o "Comitê Coordenador dos Estudantes pela Não-violência" e passado por movimentos "Black Power". Pouco depois da morte de Luther King, a fala de Carmichael expressou, sem rodeios, o clima de revolta e radicalização da juventude: "Agora que levaram o Doutor King, está na hora de acabar com essa merda de não-violência". Modo bastante direto de indicar que estava partindo para um outro caminho; o mesmo, diga-se de passagem, percorrido por outra importante militante do período, a feminista e também membro do PC norte-americano, Angela Davis. Não demorou muito, contudo, para que Hoover provasse que também não estava fazendo metáforas ao indicar os "Panteras" como os principais inimigos do país. Detonando um ataque com voracidade poucas vezes vistas na já violenta história dos órgãos de repressão norte-americanos, Hoover, numa ação conjunta do FBI, da CIA e de policias estaduais e locais, desferiu sucessivos e mortais golpes contra o grupo, numa escalada que atingiu um de seus mais trágicos picos em 4 de dezembro, com a execução de Fred Hampton, que apesar de ter apenas 21 anos era o principal dirigente da organização em Chicago. Morto enquanto dormia, num ataque também feriu gravemente sua mulher que tinha nos braços o filho de 8 meses do casal, Hampton foi um entre os muitos que foram mortos, torturados, presos ou exilados. No decorrer das décadas seguintes centenas de outros foram empurrados para a mesma trilha, como é o caso de Mumia Abu-Jamal, injustamente condenado à morte desde 1981. No mesmo período, todos os principais dirigentes do grupo foram presos ou "tirados de circulação". Em 1970, Angela Davis tornou-se a mais famosa presa política norte-americana (num fraudulento processo que a manteve na cadeia até 1972); Huey foi preso, acusado de assassinato, e depois mergulhou no mundo das drogas até ser morto nas ruas de Oakland, no começo dos anos 1980; Bobby Seale também foi preso no início de 1969 e Cleaver foi obrigado ao exílio. A efêmera e irregular trajetória dos Panteras, no que se refere ao impacto do movimento de 1968 na luta contra o racismo, é semelhante ao que aconteceu em tantos outros movimentos. Por um lado, seus fracassos e revezes denunciam as contradições e limitações das organizações e lideranças que estiveram à frente do processo. Por outro, sua radicalidade foi tamanha que não só arrancou conquistas imediatas como também deixou marcas permanentes em muito mais do que a história do movimento negro e suas organizações. Penetrou inclusive na mentalidade de milhões de negros e negras. Soul: o "espírito" da negritude Num reflexo das revoluções comportamentais que também atingiam outros setores da juventude, negros e negras abandonavam massivamente o visual copiado da classe média branca e ostentavam seu orgulho racial em volumosas cabeleiras "black power", nome mais do que adequado para uma atitude que, acompanhada numa moda que mesclava negritude, africanidade e psicodelismo, era, sim, uma ousada e ostensiva demonstração de que negros e negras desejavam "poder". Um estilo que ganhou o mundo embalado pelo "black soul", a dançante "alma" ou "espírito" negro que tanto ajudou na construção de um senso de identidade e comunidade dentre os negros de muitos países, inclusive do Brasil, o que foi determinante para a formação e o desenvolvimento do movimento negro, nas décadas seguintes. Interpretados por gente como Aretha Franklin e o poderosamente irreverente James Brown, os "souls" não vinham só carregado de ginga e atitude, mas também carregavam tradições seculares e lamentos contra a opressão, coisa que ficaram evidentes particularmente na produção dos músicos vinculados à antológica gravadora Motown Records, que abrigou nomes como Stevie Wonder e Marvin Gaye.

8 de jun. de 2008

Este ensaio faz referência à invasão da Baia dos porcos, em 16 de abril de 1961,

Fidel Castro, que no início de 1961 era primeiro ministro de Cuba, liderou um grupo de guerrilheiros que desencadeou desde 1956 uma revolução popular. O levante alcançou seu objetivo em 1º de maio de 1959, com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista. Mesmo promovendo reformas moderadas, o novo governo, recebeu forte oposição do governo americano, que dominava a maior parte da economia cubana, e dessa forma, incidiu uma forte pressão econômica e diplomática sobre a Ilha. O levante alcançou seu objetivo em 1º de maio de 1959, e dessa forma, incidiu uma forte pressão econômica e diplomática contra cuba e contra Fidel. Após três meses no governo, Kennedy autorizou operação clandestina de contra-revolucionários montado pela CIA. O desembarque na Baía dos Porcos (16/04/1961) foi derrotado com certa facilidade, frustrando as expectativas americanas de encontrar apoio popular para derrubar Castro A contra partida ao resultado da operação articulada pelo governo estadunidense foi que Fidel Castro proclamou a adoção do socialismo no país caribenho, fronteiriço às águas pertencentes ao território do EUA em primeiro de Maio do mesmo ano. Mesmo assim, é importante salientar que a Revolução Cubana não teve cunho de reforma política no sentido de promover o comunismo, pois como René Remond afirma: o partido comunista só desempenhou, de fato, um papel muito reduzido, e que se junta em seguida ao bloco das revoluções comunistas. Em 1º de maio de 1961, menos de um mês após a invasão da Baia dos Porcos, Castro proclama a adoção do regime socialista, com orientação marxista-leninista. Esta proclamação causou furor para os dirigentes americanos, que trataram de realizar uma série de embargos econômicos e políticos aos cubanos, inclusive expulsando-os da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dessa forma, a política estadunidense acaba promovendo a aproximação de Cuba ao bloco soviético, tanto no plano econômico como no político [10]. Isso um ano mais tarde, acarretará no que se denomina a crise dos mísseis, ocorrido pela implantação de base militar soviética em Cuba. Ainda sobre o inconsistente engajamento inicial de Cuba ao comunismo, Hobsbawn afirma que o partido comunista cubano não era sequer simpático a Fidel Castro. Portanto, a característica comunista do regime cubano, pode ser entendida como um efeito da oposição aos estadunidenses e não como um objetivo inicial da revolução, o que forçou uma conseqüente aliança com os soviéticos. Acerca do caráter não-comunista de Cuba, Hobsbawm acrescenta sobre as relações do governo revolucionário cubano e o Partido Comunista: As relações entre eles eram visivelmente geladas. Os diplomatas e conselheiros americanos debatiam constantemente se o movimento era ou não pró comunista [...], mas claramente conclui que não era. Esta conclusão fora uma das razões pelas quais os estadunidenses não colocaram em ação seu exército oficial para derrubar o governo de Fidel Castro, ou seja, no início não era explícito que acontecera uma revolução no sentido comunista, mas sim, uma revolução popular contra um governo autoritário. No entanto, apesar da Revolução Cubana não ter causado qualquer perigo iminente ao poderio dos EUA, a revolução conseguiu atrair a atenção de praticamente todas as esquerdas do mundo ocidental. A forma com que os cubanos encaminharam sua revolução encorajava outros grupos oposicionistas pelo mundo e era visto como um modelo, até mesmo, para os críticos da União Soviética, pois a política fidelista coexistia com o capitalismo a cem milhas da maior nação capitalista do mundo. Portanto, além do caráter político e militar está em jogo o mental, ou seja, não se sabia até que ponto uma ilha revolucionária, agora oficialmente comunista, às portas do motor capitalista do mundo, poderia intervir em seu poderio continental. Mesmo Cuba não representando um perigo para a economia americana, era vista como um incômodo, principalmente do ponto de vista ideológico, encorajando outros países da América Latina, Ásia e África a promover a Revolução e, além disso, eram avalizados e protegidos pela União Soviética. Na época os Estados Unidos já se impressionavam com o avanço tecnológico soviético e a competitividade econômica do Japão e Europa Ocidental , herdeiros do Plano Marshall. Por isso parte dos estadunidenses a iniciativa de colaborar com um grupo de exilados, treinados e armados pela CIA para derrubar Castro, sem se expor oficialmente, para tentar sufocar o germe de problemas futuros. Portanto, a verdade é que: A revolução castrista criara um clima de perplexidade nos Estados Unidos, permitindo aos países latino americanos aprofundar suas reivindicações e desenvolver uma diplomacia relativamente autônoma nas nações maiores como México, Brasil e Argentina Conclui-se também que não seria salutar para os Estados Unidos utilizar todo o seu poderio bélico contra Cuba, até porque, como se pode perceber não havia motivos evidentes para isso. Ainda que houvesse motivos, a Ilha fica a pouco mais de cem milhas da costa estadunidense; utilizar armamentos pesados seria arriscado para a sua própria população. O presidente John Kennedy se utilizou do patrocínio a exilados anti-castristras para a operação. No entanto, até hoje, a invasão à Baia dos Porcos é conhecida como a principal derrota estadunidense, em seu próprio continente. Realmente foi uma derrota considerável para os EUA, mesmo com as ressalvas militares elencadas anteriormente, até porque não há a intenção de se quantificar o poderio militar de cubanos e estadunidenses na década de 1960, mesmo porque se fosse isso seria apenas uma descrição quantitativa e as diferenças a meu ver são desproporcionais. A questão é que no período em questão, o que está em jogo não são apenas armamentos e soldados, mas políticas e mentes unidas com o objetivo de solidificar uma ou outra ideologia. *Bibliografia: -HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve sáculo XX 1914-1991I. Trad. Marcos Santarrita. Ver. Técnica Maria Cecília Paoli. 2ª ed, 12ª impressão. São Paulo: Cia das Letras, 1995. -RÉMOND, René. O Século XX: de 1914 aos nossos dias. Trad.: Octávio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1974. -VIZENTINI, Paulo Fagundes. História do Século XX. 2ª Edição. Porto Alegre: Editora Novo Século, 2000.

6 de jun. de 2008

SOLIDÃO

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre. VINÍCIUS DE MORAES

5 de jun. de 2008

Ilha das Flores - Parte 1

crueldade provocada pelo capitalismo (DOCUMENTÁRIO)

VERGONHA

SOB AS ORDENS DO IMPERIALISMO A intervenção no Haiti objetiva restaurar os bons tempos do governo semicolonial de Papa e Baby Doc e aumentar a pressão sobre Cuba, Venezuela e Argentina, que se nega a pagar incondicionalmente a nota escorchante apresentada pelos banqueiros europeus e norte-americanos. O drama colonial do Haiti apresenta pouco de novo, à exceção da esdrúxula ação do governo Lula da Silva que, sem consultar o parlamento nacional, verbalizou a intenção de enviar 1.100 homens e eventualmente dirigir, em nome dos franco-americanos, a segunda etapa da intervenção no país. Sempre sob a bandeira da ONU, é claro. São conhecidos os objetivos políticos da decisão irresponsável. O governo brasileiro almeja conquistar o apoio norte-americano a sua reivindicação de ingresso como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, no caso de eventual reforma do organismo. A proposta apóia-se no pretenso status internacional do Brasil. Tamanho não é documento Reivindicação que circunscreve a imensa irresponsabilidade do governo e dos articuladores da política externa nacional. Atualmente, o governo Lula sequer detém o controle dos destinos da nação, realidade materializada na incessante desnacionalização da indústria brasileira, na entrega do Banco Central a interventor do capital financeiro mundial, na submissão rasteiras aos ditames do FMI. Nessas condições, um hipotético ingresso do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança ensejaria apenas que os exércitos nacionais se transformem em guardas pretorianas do grande capital mundial. Realidade que facilitaria eventuais intervenções em regiões da América Latina onde cresce a insurgência social e popular, como a Argentina, a Bolívia, a Colômbia, a Venezuela. A decisão de Lula da Silva deu-se paradoxalmente na ausência de qualquer exigência franco-americana, ao contrário do ocorrido no início dos anos 1950, quando o presidente norte-americano Harry Truman espremeu duramente e retaliou o governo brasileiro para que participasse da intervenção multinacional na Coréia, também sob os auspícios da bandeira azulzinha da ONU. Tempo de homens minúsculos Na época, contra a opinião dos ministros da Fazenda e das Relações Exteriores, Vargas negou-se terminantemente a participar de aventura político-militar que não interpretava interesses do Brasil, elevados ou mesquinhos. As nações latino-americanas que enviaram tropas para o front penaram mais de quatro mil mortos. Além de criminosa, a intenção do governo Lula é mesquinha. Ela planeja obter o bônus do apoio ao imperialista sem incorrer em qualquer ônus, ao enviar tropas brasileiras apenas após a pacificação da oposição popular ao governo fantoche haitiano imposta pelo tacão militar franco-americano. Os soldados brasileiros desembarcaram num Haiti , apenas para realizar a sórdida e habitual repressão policial da população pobre. Espera-se, portanto, que não corram o risco de envolver-se em combates contra uma eventual resistência popular. Revolução gloriosa A imagem de um Haiti semi-selvagem e incapaz de se auto-administrar é construção racista do imperialismo yankee. O Haiti foi a primeira nação americana a conquistar a independência e o fim da escravidão, através da gloriosa sublevação de sua população escravizada que, semidesarmada, vergou os mais poderosos exércitos da época – francês, inglês e espanhol. No preciso momento em que a sanha do colonialismo abate-se novamente sobre o pais sofrido. É difícil prever o pulsar profundo de um povo oprimido. No caso improvável, mas não impossível, de que a realidade não corresponda às expectativas, Lula da Silva e seus asseclas não poderão, como o serviçal presidente polonês, invocar terem sido enganados por Bush e Chirac. Lula e seu governo vêm alienando a independência nacional, ao submeter o país incondicionalmente ao capital financeiro mundial e suas instituições. Agora, propõem envolver o exército brasileiro em operação de submissão semi-colonial de uma nação americana. E tudo sob o silêncio de partido que, um dia, se agrupou sob a bandeira vermelha dos trabalhadores das cidades e do campo do Brasil e do mundo. Em defesa do Haiti A eventual participação do Brasil na imposição armada de ordem semicolonial no Haiti manchará indelevelmente as mãos do governo Lula da Silva, do PT e dos partidos da aliança governamental com o sangue do povo haitiano, que já começa a ser vertido pelas tropas imperialistas franco-americanas. Trabalhadores, democratas, as mulheres e os homens de bem do Brasil devem cerrar filas na luta pelo respeito pleno e incondicional do direito de autodeterminação e contra qualquer participação nacional na aventura imperialista, não importando qual bandeira serva de mortalha para o crime que já se perpetra contra o povo haitiano. Sobretudo as direções do movimento negro organizado e a população afro-descendente brasileira devem levantar-se na defesa intransigente desse povo mártir, heróico protagonista no passado da mais radiosa saga libertária americana. Saga pela qual foi e continua sendo punido pelos senhores das riquezas e do poder do passado e do presente. Mário Maestri é historiador

HAITI

• O Haiti é o país mais pobre do continente. Dois terços de sua população vive na mais absoluta pobreza. Muitas famílias sobrevivem com menos de um dólar por dia e a expectativa de vida média da população chega a apenas 45 anos. Isto é resultado de brutal pilhagem colonial e imperialista que o país sofreu ao longo de sua história. História que também está marcada por lutas heróicas. A era moderna do Haiti é inaugurada por um genocídio. Em 1492, Cristóvão Colombo descobre a ilha de La Española, hoje em dia dividida entre Haiti, ao ocidente (oeste), e a República Dominicana, ao Oriente (leste). Em menos de meio século, a maioria de seus primitivos habitantes, mais de 300 mil índios taínos, havia sido exterminada, dizimada pela escravidão nas minas de ouro, em massacres e epidemias. A partir de 1505, é introduzido na ilha o cultivo da cana de açúcar. Barcos negreiros trazem escravos africanos para trabalharem no plantio. Na medida em que os colonos espanhóis, frente ao esgotamento das minas de ouro, abandonam a ilha rumo a América do Sul, os franceses ocupam a ilha de Tortuga, no norte do Haiti. Em 1697, a Espanha aceita a soberania francesa nessas terras que, após um século, recebem o nome de Haiti. Graças ao cultivo da cana de açúcar, cuja importância era similar a de petróleo atualmente, o Haiti se converte em uma das colônias mais ricas do mundo. Uma riqueza que se baseava na brutal exploração de mais de 500 mil escravos africanos obrigados a trabalhar de sol a sol em condições desumanas. No momento da Revolução Francesa, a população de escravos é dez vezes maior do que a de brancos e de homens livres, majoritariamente mestiços e negros que obtiveram ou compraram sua liberdade. Quando começaram a chegar os primeiros ecos da Revolução Francesa, em 1789, as aspirações de liberdade se expressam na voz de Toussaint Louverture, o Espartaco Negro. Sua figura domina a história até 1804, quando o Haiti conquista sua independência. Mais de 200 mil pessoas, a maior parte negros, morreram durante aquela revolução. Foi não só a primeira revolução anti-colonial triunfante na América Latina como, também, a primeira revolução vitoriosa de escravos no mundo. Mas a economia haitiana estava em ruínas. As plantações haviam sido devastadas e ressurgiu o antagonismo entre a maioria negra e a minoria mestiça. Temendo um contágio abolicionista, as potências dessa época, que em sua maioria não haviam abolido a escravidão, isolaram e marginalizaram a jovem República negra. A guerra pela independência na América espanhola e uma larga série de guerras civis que sucederam impediram também a unidade de ambos os processos revolucionários. As autoridades haitianas temiam que a França lançasse uma invasão. Paris, buscando recuperar sua antiga colônia, reclama em 1814 uma compensação no valor de 150 milhões de francos em ouro, para indenizar os colonos. Em 1838, a França reconhece a independência do Haiti, sobre a base da aceitação dessa “dívida”, agora reduzida a 90 milhões de francos. Até 1883, o Haiti pagou em partes o total dessa indenização. Em 2003, Aristide lançou uma campanha exigindo da França o reembolso dessa “dívida da independência”, cujo valor atualizado chega a 21,6 milhões de dólares. Obviamente, a França não pagou. Durante o século XIX, o peso dessa dívida nas finanças do Haiti, a devastação das florestas e o empobrecimento do solo causado pela exploração excessiva durante o período colonial afetaram o desenvolvimento da nova República negra. Os choques internos originaram várias guerras civis e até a divisão temporária do país. Isso aprofundou o antagonismo entre as massas de ex-escravos, que sobreviviam nas zonas rurais, e a nova burguesia oligárquica urbana, sobretudo mestiça, que enriqueceu com o comércio de café. Sucederam-se golpes de Estado, motins e golpes palacianos. No século XX mudam os protagonistas, mas não a realidade de pilhagem e miséria. Também vai emergir como potência dominante o imperialismo norte-americano. A partir daí, a América Central e o Caribe são considerados pelos EUA como seu “quintal”. Inicia-se, então, a política do “Big Stick” (grande tacão) para demonstrar quem realmente manda. O verdadeiro significado dessa política fica evidente com a frase de presidente Monroe “América para os americanos”. Começa então uma série de invasões a distintos países da região. O Haiti foi ocupado pelos soldados dos EUA em 1915, que lá permanecem até 1934. Eles tomaram o controle da aduana e criaram exércitos para defender seus interesses. Depois, em 1957, eles irão apoiar a ditadura dos Duvalier, varrida em 1986 por uma imensa rebelião popular. Começa assim a história recente que analisamos no artigo principal dessa edição do Correio Internacional. Atualmente, o domínio ianque da economia haitiana é quase absoluto: 89% das importações e 65% das exportações se realizam com os EUA. Aliado com uma pequena oligarquia mestiça (menos de 5% da população) e branca (pouco mais de 1%), oprimem e exploram a imensa maioria negra. Nas últimas décadas, à tradicional produção de café, rum e tabaco, foram agregadas também indústrias de vestido e de brinquedos para exportação, como as maquiladoras nas chamadas “zonas livres” de Porto Príncipe. Nelas as empresas multinacionais pagam salários de fome e ganham fortunas. Como uma amarga ironia do capitalismo, uma parte destas roupas volta ao Haiti já usada, reingressadas por expressas estrangeiras para vendê-las a preços baixos ou como parte da hipócrita ajuda humanitária do imperialismo. A maioria dos haitianos só usa estas roupas de segunda mão porque não pode comprar uma nova, nem mesmo os que trabalham nas fábricas que as produzem. FONTE:Correio Internacional - Liga Internacional dos Trabalhadores. PESQUISA -João Filho, professor da rede pública de São Paulo

1 de jun. de 2008

LUCIANO HUCK !!!

Mas quem são os burgueses, afinal? Esse nome vem da palavra burgo. No período final da Idade Média, os burgos eram vilas, locais situados fora dos feudos, onde grupos de comerciantes e negociantes moravam e realizavam suas atividades. Assim, os burgueses passaram a ser identificados com os indivíduos que praticavam o comércio e ganhavam dinheiro. Em decorrência disso, com o desenvolvimento do capitalismo Industrial, a expressão "burguesia" passou a designar a classe dos ricos proprietários de indústrias e dos grandes negociantes. Tudo indica que, a partir do século 18, a maior fonte de riqueza era a propriedade dos meios de produção (fábricas e equipamentos) pelos capitalistas (aqueles que têm o capital, ou seja, o dinheiro para adquirir esses meios). Já a maior parte das outras pessoas da sociedade, que não tinham esses recursos, viam-se forçados a se empregar nas fábricas, vendendo seu trabalho em troca de um salário. Através do trabalho, os operários (também chamados de proletários) geram riqueza para os capitalistas. Estes, além de cobrir seus custos com a produção, também conseguem obter lucros através da mais valia.(O custo de manutenção da força de trabalho (operário, maquinas) constitui seu valor; a mais-valia é a diferença entre o valor produzido pela força de trabalho e o custo de sua manutenção). Segundo Adam Smith, o jogo econômico era regido pela lei da oferta e da procura. Dentro dessa lógica, ninguém - particularmente o Estado - deve interferir no mercado, onde vigora uma competição, em que os mais capazes obterão melhores resultados. A lei do mais forte ( Darwinismo social ) Depois que Darwin apresentou as suas teses a respeito do desenvolvimento natural do Homem e das sociedades, alguns grupos de cientistas e sociólogos levaram-nas muito “à letra” e, em certo sentido, de forma errónea. O termo “Darwinismo social”, divulgado em 1944 pelo historiador Richard Hofstadter (principalmente), traduziu-se numa tendência geral em analisar o ponto evolutivo das civilizações daquela época, relacionando o grau de desenvolvimento com a sua capacidade de adaptação, e, por conseguinte, a considerar a existência de sociedades fracas e sociedades fortes, sendo as primeiras subjugadas ao poder das outras. No fundo, é a conversão de uma teoria biológica numa doutrina social que assiste à sua aplicação no âmbito político. As conclusões desta mentalidade e ideologia extremista constituíram um retrocesso em todo o processo em vista à igualdade e liberdade dos povos, à sua própria auto determinação, e as suas consequências práticas foram dramáticas, uma mancha triste na História da humanidade. O programa CALDEIRÃO DE LUCIANO HUCK, e a apresentação do quadro SOLETRANDO, nos lembra este contexto (tantos outros são iguais). O garoto Éder Coimbra ganhou das outras duas finalistas, a Thafne Souza do Paraná de 12 anos e a Amanda Costa do Rio de Janeiro de 13 anos. Éder é de Minas Gerais e estuda em uma escola pública. Seu pai disse que são muito pobres e sobrevivem com cerca de 200 reais por mês. " Apesar das dificuldades para estudar, este é um exemplo de que, não importa se é escola pública ou particular, o aluno aprende, bastar querer". Este é um pensamento da ideologia burguesa o sistema capitalista exclui a maioria, quantos ganharam R$ 100.000,00 de prémio para aplicar na sua formação? e os demais brasileiros que não tem acesso a educação digna o que farão? continuam no farol vendendo bala ou catando no lixões frente aos nossos olhos resignados e omisso?. É claro que o Joaquim e Benício,(filhos do Huck com a ?apresentadora? Angélica) tem seus futuros garantidos. Não precisamos de migalhas queremos dignidade e no capitalismo isto é impossível pois é intrínseco do sistema a exclusão da maioria para favorecer uns poucos. Assistir ao documentário ILHA DAS FLORES. João Filho, professor da rede pública de São paulo.

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