26 de abr. de 2008

AS VERDADEIRAS RAPOSAS

Indigenistas e governo defendem reserva Raposa Serra do Sol, enquanto rizicultores que ocuparam a área recusam-se a sair e militares clamam pela garantia da soberania nacional em fronteira Homologada em 15 de abril de 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a terra indígena Raposa Serra do Sol, no norte de Roraima, fronteira com a Guiana e a Venezuela, voltou recentemente às manchetes de jornais. O motivo foi o início, em 27 de março, da Operação Upakaton 3, da Polícia Federal, para a retirada dos últimos, porém persistentes e influentes, produtores de arroz, além de pequenos proprietários rurais e comerciantes. A resistência deles, manifestada em atos de sabotagem para impedir a entrada de policiais nas fazendas e protestos na capital Boa Vista, ganhou espaço na mídia. Certamente defendendo interesses do capital financeiro ou por falta de informação sobre os indios usam o espaço da televisão rádio e revistas para falarem sem o devido conhecimento de causa.José Ribamar Bessa freire professor da pos-graduação em memória social da universidade Federal do Rio de Janeiro(UNIRIO) do Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) afirma: Trabalho há 35 anos com índios, tento olhar com o olho do índio. Se os jornalistas lessem a literatura indígena, vissem a arte, ouvissem a música, fariam diferente. Darcy Ribeiro dizia que nem 1% da população brasileira conhece índios em carne e osso. Talvez essa nova lei que obriga as escolas a ensinarem a história e a cultura dos índios mude um pouco isso.Ao contrário do que vem sendo dito por militares e reproduzido pela imprensa, os índios defendem, e não ameaçam, a soberania nacional. Não são os índios que botam a soberania em risco, são os fazendeiros. Disse Joaquim Nabuco, no século XVIII, que “os peitos dos índios foram as muralhas do sertão”.A presença deles lá garante a biodiversidade, porque as lavouras não entram. À medida que os arrozeiros foram invadindo a área, os pássaros João-de-Barba-Grisalha, por exemplo, foram acuados. Imagine quanta diversidade de vida está se perdendo.O Exército usa a soberania nacional e assim defende o interesse dos arrozeiros, por uma ideologia trabalhada no Exército que desvaloriza o índio. Eles jogam o Brasil contra os índios, como se faz há mais de 500 anos. Mas não são todos os militares que estão com esse discurso. Existem os herdeiros do Marechal Rondon que sabem que os índios são importantes para a soberania brasileira.Em 17 de abril, representantes indígenas dos povos Karajá, Krahô, Tapuia, Apinajé, Xavante e demais participantes da Semana do Índio promovida pela Universidade Católica de Goiás, em parceria com a Funai e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgaram carta-manifesto em que apóiam a retirada imediata dos ocupantes-não-índios da Raposa-Serra do Sol, "incluindo os estrangeiros, religiosos ou não, representantes de ONGs ou não , que usam como escudo o discurso de defesa das terras indígenas, porém com objetivos escusos". No enfático texto, as lideranças também expõem sua preocupação com o avanço da fronteira agrícola para produção de bio-combustíveis e outros produtos que levam a devastação e poluição do entorno dos Territórios Indígenas e com as grandes obras governamentais previstas no Plano de Aceleração do Crescimento, como hidrelétricas, estradas e linhas de transmissão. O conselho Indígena de Roraima acusa o Governo de Roraima de enganar o STF para beneficiar arrozeiros a partir de uma ação cautelar que confundiu os ministros ao afirmar que a Raposa Serra do Sol, em área contínua, representaria 46% do estado de Roraima. Sendo que Roraima tem 22,4 milhões de hectares, a área de 1,7 milhão da reserva equivale a 7,5% do estado Na verdade. O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro defende o direito dos índios à terra. Em entrevista ao Estado de São Paulo em 20 de abril, o professor do Museu Nacional da UFRJ afirmou não considerar a área grande demais. "As terras de índios são 43% ao todo, porém, até 30, 40 anos atrás, eram 100%. E o que acontece hoje com os 57% que não são terras de índios? São ocupados por uma população muito pequena, algo em torno de 1 milhão de pessoas. O que é isso? É latifúndio. Sabe quantos são os arrozeiros que exploram terras da reserva? Seis. Não há dúvida de que o que se quer são poucos brancos, com muita terra".O Brasil tem atualmente cerca de 600 terras indígenas, que abrigam 227 povos, com um total de aproximadamente 480 mil pessoas. Essas terras representam 13% do território nacional, ou 109,6 milhões de hectares.Um dia foram 5 milhões de indios que em cada momento da história foram dizimados por interesses diversos,nem sabemos quem são, chamamos apenas de indios. João Filho,Professor da Rede Pública de São Pulo

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