3 de mai. de 2008

IN-MEMÓRIA

Minha negritude não é uma pedra E sua surdez arremessada contra o clamor do dia Minha negritude não é uma gota d`água morta Sobre o óleo morto da terra Minha negritude também não é uma torre ou uma catedral Ela mergulha na carne vermelha do solo Ela mergulha na carne ardente do céu Minha negritude perfura a aflição de seu sossego correto." O mundo perdeu, quinta-feira (17), um dos maiores ícones da literatura caribenha e da luta contra o racismo, o poeta martinicano Aimé Césaire. Aos 94 anos, Aimé morreu devido a problemas cardíacos em um hospital de Fort de France, na Martinica, onde estava internado há uma semana. Aimé nasceu em uma família pobre, na cidade de Basse-Pointe, na Martinica, em 26 de junho de 1913. Apesar das condições sociais, os pais de Aimé sempre investiram na educação dos filhos. Para facilitar os estudos das crianças, mudaram-se para Fort de France, capital do país, onde Aimé estudou até os 18 anos. Depois, terminou os estudos em Paris, onde estudou literatura latina, grega e francesa. Em Paris, Aimé Césaire conheceu o poeta senegalês Léopold Senghor, que se tornaria o primeiro presidente de Senegal após a independência. Senghor e Leon Gontran Damas, da Guiana Francesa, contribuíram com Aimé Césaire na formulação do conceito de Negritude e na expansão desse movimento. A Negritude foi definida por eles como a "afirmação de ser negro e o orgulho disso". O pensamento de Aimé Césaire sobre a restauração da identidade dos negros foi exposto pela primeira vez no livro Cahier d`un retour au pays natal (Caderno do retorno ao país natal), de 1947. O livro é um misto de poesia e prosa poética. No período da Segunda Guerra Mundial, Aimé foi preso com o escritor surrealista André Breton, que o encorajou a usar o surrealismo como uma arma política. Cahier d`un retour au pays natal foi descrito por Breton como "o maior monumento lírico do nosso tempo". Após o final da guerra, Aimé dividiu o seu tempo entre Paris e a Martinica. Como membro do Partido Comunista, participou em ações políticas a apoiou a descolonização das colônias francesas na África. Com sua esposa, Suzanne Roussi e com outros intelectuais martinicanos, fundou o jornal cultural Tropiques, no qual publicava suas poesias. Em 1945, Aimé Césaire foi eleito prefeito de Fort de France. Em 1956, desliga-se do Partido Comunista e funda, dois anos depois, o Partido Progressista Martinicano. Em 1955, escreveu o Discours sur le colonialisme (Discurso sobre o colonialismo), atacando a civilização européia e o racismo colonial. No texto, Césaire compara a relação entre os colonizadores e os colonizados com a relação entre os nazistas e suas vítimas. Esse discurso deu a sua obra um caráter universal. Aimé Césaire também escreveu peças para teatro e possui uma vasta obra literária. Ele se definia "fundamentalmente poeta, mas poeta comprometido" e "negro, negro, desde o fundo do céu imemorial". Por Marília Matias de Oliveira, Especial para o Portal Palmares

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