21 de jun. de 2008

SELVAGEM PARTE 2

Manifestantes, caminharam da Igreja da Candelária até o Comando Militar do Leste, pediram o fim da homofobia no Exército brasileiro.(e na sociedadede como um todo). Matéria de capa da revista Época do domingo 1 de junho, com a história do casal Laci Araújo Marinho e Fernando Alcântara de Figueiredo, sargentos do Exército nacional – o primeiro é norteriograndense e o segundo é pernambucano –, relata o que é sabido: nas forças armadas de diversos países, existem gays e lésbicas e estes podem ser tão bons e importantes profissionais como aqueles que se declaram heterossexuais (sim, os heterossexuais se declaram como tais a todo momento. Ninguém estranha, tornou-se natural: contam suas histórias de amor, beijam-se e andam de mãos dadas em público, aparecem em cenas de afeto e sexo em filmes, novelas etc. Toda a esfera pública é dominada por sua heterossexualização. É a dita normalidade!). A reportagem da revista revela também que os militares gays estão casados há mais de sete anos e que os dois se querem, amam-se. Mas a matéria revela igualmente, alguns detalhes, à perseguição praticada contra os dois pelo comando do Exército, através da ação homofóbica de alguns de seus superiores no comando da 11ª Região Militar. Perseguição que inclui a prisão em 4 de junho, do sargento Laci Araújo, após entrevista a programa de TV(super pop). Na saída do estúdio em que dava entrevista ao vivo, ao lado de seu companheiro, foi cercado por soldados do Exército com mandado de sua prisão. (...De fato, após meio século da Declaração Universal dos Direitos Humanos,lastimavelmente, o Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) ainda tem muito a denunciar:a cada dois dias um homossexual continua sendo brutalmente assassinado no Brasil,vítima da homofobia LUIS MOTT). Matérias que circulam na imprensa de Brasília dão conta que o sargento Laci Araújo é perseguido também em razão de sua atividade como artista, pois, além de sargento do Exército nacional, ele fazia cover da cantora Cássia Eller em shows na capital federal. Seus shows tornaram-se sucesso. Os comandos do Exército (como, de resto, quase toda a sociedade ) preferem a invisibilidade dos homossexuais. De fato, o que socialmente incomoda é a visibilidade da existência gay, a conquista e a afirmação de direitos, o reconhecimento social e político. Enquanto permanece no silêncio e na invisibilidade, a homossexualidade é admitida, embora cercada de preconceito. A violência e crimes de homofobia continua aumentando Convém insistir num ponto: não se trata crimes comuns, fruto de assalto ou bala perdida, nem de “crimes passionais” como as páginas policiais costumam noticiar. São crimes de ódio, em que a condição homossexual da vítima foi determinanteno modus operandi do agressor. É a ideologia machista e homofóbica, que desqualifica travestis, lésbicas e gays como subumanos,criaturas vulneráveis e desprezíveis que merecem ser agredidas e assassinadas. “Viado tem mais é que morrer!”, diz o ditado popular repetido de norte a sul do país.Em nosso país, vergonhosamente, a homofobia tem inspiração e se legitima no próprio discurso oficial de personalidades de grande destaque institucional na "elite" brasileira. Que o leitor faça seu próprio julgamento dessas abomináveis declarações de ódio, desprezo e estímulo à violência anti-homossexual registradas em plena virada do terceiro milênio: seus autores também são responsáveis por tais crimes.Na Universidade de Santa Cruz, RS, foram distribuídos panfletos e adesivos com as seguinte palavra de ordem: “Mate um homossexual!”. Em um dos programas de maior audiência popular, quando ainda na TV Record (da Igreja Universal), a apresentadora Ana Maria Braga divulgou a seguinte piadinha: “Você sabe qual é a maior tristeza de um pai caçador? Ter um filho veado e não poder matar!”. O bispo de Erechim, RS, D. Girônimo Anandréa declarou: “Os homossexuais nunca constituíram uma família. E nem vão constituí-la no futuro. O bem comum da sociedade requer a desaprovação do seu modo de agir”.O pastor Túlio Ferreira, da Assembléia de Deus de São Paulo, disse: “O homossexualismo é uma anormalidade, uma profanação do nome de Deus, pois a homossexualidade é uma maldição divina e por isto todos os homossexuais serão conduzidos pelo diabo à perdição eterna”. Dom Eusébio Oscar Scheid, ex-Arcebispo Metropolitano de Florianópolis e atual do Rio de Janeiro, declarou: “O homossexualismo é uma tragédia. Gay é gente pela metade.Se é que são gente!”. (...Nestes últimos quatro mil anos da história humana, o Ocidente repetiu, ad nauseam,que o amor e o erotismo entre pessoas do mesmo sexo eram “o mais torpe, sujo e desonesto pecado”, e que por causa dele Deus castigava a humanidade com pestes, inundações,terremotos, etc... LUIS MOTT). Toda a pressão psicológica sofrida pelo sargento Laci Araújo o adoeceu. Hoje, ele é portador de síndromes que certamente tem relação com o sofrimento que experimenta. À repressão a que foi submetido no Exército some-se a angústia que guardou por muito tempo, produzida pela violência do silêncio a que gays e lésbicas são submetidos. O caso é claro: ódio contra aqueles que não se deixam tornar reféns do preconceito, Ódio contra aqueles que, felizes, não vivem sua sexualidade com culpa, vergonha, medo e alienação. Não deixemos que o sargento Laci Araújo torne-se um novo Oscar Wilde, poeta e escritor, que, em 25 de maio de 1895, na Inglaterra, foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados pelo crime de amar um rapaz. Todos nós, homossexuais ou não, devemos combater o preconceito e suas atrocidades. Não há mais desculpas para ninguém ficar de fora desse combate. O Brasil não pode mais continuar admitindo violências como as que agora são submetidos os sargentos Laci Araújo e Fernando Alcântara. (... a intolerância incendiária da Santa Inquisição, que condenava à morte os machista mandava igualmente apedrejar a mulher adúltera e a donzela impura que se fingisse virgem ao se casar...LUIS MOTT). Isto nunca mais! O preconceito ignorante e a homofobia é que merecem condenação! ------------------------------------------------------------------------------------- João Filho, professor da rede pública de São Paulo.

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