10 de ago. de 2008

Atualmente, toda livraria tem uma seção de auto-ajuda com centenas de livros. Uma rápida olhada pelos títulos nos mostra os temas mais freqüentes: a busca pela felicidade e o enriquecimento fácil, o qual, por sua vez, nos transportaria ao reino da alegria. O tema da felicidade também está nas universidades. Um dos cursos mais populares em Harvard é um ciclo sobre a questão da felicidade. Segundo pesquisadores de Harward e de Cambridge, “entre 50% e 80% da variação entre os diferentes níveis médios de felicidade que as pessoas ostentam pode ser explicada por seus genes, e não pelas experiências de vida pelas quais elas passam”. Isto é, a felicidade depende mais de uma estrutura genética favorável do que de nosso esforço para alcançá-la. O papel dos cientistas seria, então, desenvolver técnicas e remédios para ativar as regiões do cérebro responsáveis pela sensação de felicidade do homem. Esta discussão não é nova. Por exemplo, o escritor russo Fiódor Dostoievski escreveu no fim do século 19, em “A Sentença”: “Preferiria viver como os animais, que são inconscientes. Parece-me que a consciência, longe de cooperar para a harmonia geral, é causa de cacofonia, visto como me faz sofrer. Olhem as pessoas que são felizes neste mundo, as que consentem sofrer! São precisamente os que parecem com os animais, que se aproximam da besta pelo desenvolvimento limitado da consciência, os que vivem vida brutal, que consiste unicamente em comer, beber, dormir e procriar”. Para o ser humano amargurado descrito pelo escritor, é mais feliz o homem que vive como um animal, satisfazendo-se apenas com as necessidades biológicas básicas, por viver na ignorância. Podemos pegar um exemplo atual, como o ex-cineasta Arnaldo Jabor, que fez um diagnóstico da chamada “sociedade de consumo” em um de seus artigos no jornal O Estado de S. Paulo. Ele diz que “felicidade é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar alguém a ser consumido. Felicidade é ter um bom funcionamento... Hoje, nós somos extensão das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um eletrodoméstico, um ‘avião’, peituda, bunduda, o homem quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador sem flacidez e angústias. Confundimos nosso destino com o destino das coisas”. Jabor resigna-se no caminho de que fala Dostoievski. “Para a felicidade, - diz ele - só nos resta ‘não ver’. Fechar os olhos”. Isto é, também viver feliz na ignorância. Pelas opiniões acima - a “científica”, a de um escritor do século 19 e de outro do mundo moderno - a felicidade plenamente humana é inalcançável neste mundo, com uma ressalva para os felizardos sorteados na “loteria dos genes”. Eles também consideram que a felicidade é interna ao homem, seja algo concreto (os genes) ou um ideal (um estado de espírito) e que o homem feliz é comparável a uma “coisa”. Uma coisa manipulável pela “psicologia positiva” no primeiro caso, uma coisa do tipo animal irracional no segundo e um objeto, no terceiro. Este especial do Portal do PSTU apresenta um resumo da visão marxista sobre a alienação e sua relação com a religião, o trabalho e a mercadoria. Esperamos que os textos a seguir contribuam de forma desalienante, para que mais e mais trabalhadores e jovens encontrem um sentido em suas vidas e lutem para transformar a sociedade em que vivemos. Boa leitura.

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