18 de nov. de 2008

OI PESSOAL OUVI Á ENTREVISTA COM Valdemar W. Setzer, ACHEI MUITO INTERESSANTE, QUEM GOSTOU PODE ACOMPANHAR MAIS COMPRANDO O LIVRO. Lazer deveria ser construtivo e instrutivo, e não um desligamento interior. Quais são as razões que o levaram a escolher a metodologia Waldorf? A pedagogia Waldorf é baseada numa visão de mundo em que o ser humano não é considerado nem uma máquina, nem um animal. Não conheço outra corrente pedagógica tão abrangente, levando em conta a educação do ponto de vista físico, psicológico e psíquico. Além disso, é a única que conheço que preserva a infância das crianças e a juventude dos adolescentes, sem forçá-los a adotar atitudes físicas, sentimentais e mentais de adultos. Ela o faz seguindo um modelo de desenvolvimento do ser humano que leva em conta todos os aspectos humanos, e não só o intelecto como em muitos outros sistemas ou falta de sistemas pedagógicos. Ela educa para as habilidades e conhecimentos sociais, artísticos e científicos (intelectuais) - cada um a seu tempo -, procurando produzir adultos equilibrados e livres. Finalmente, está aí para ser vista e estudada. Fico sempre impressionado com o fato de que ela, sendo um método coerente, todo publicado, ainda revolucionário apesar de existente desde 1919, usado em cerca de 800 escolas no mundo todo, seja simplesmente ignorada pelos meios acadêmicos. Isso mostra que, se alguém quiser achar preconceito, é só ir a uma universidade… Em seu livro recentemente lançado, "Meios Eletrônicos e Educação" é feita uma análise minuciosa de itens eletrônicos que de uma forma ou de outra, todos nós e principalmente as crianças, jovens, e educandos tem acesso diariamente. Fazemos uso destas tecnologias nos dias de hoje naturalmente, e sem a menor cerimônia impomos o uso das mesmas aos nossos filhos. Não há limites, não há consciência dos malefícios, ainda o homem se deslumbra com as facilidades que consegue criar e não se atemoriza com o atrofiamento do pensamento, das idéias ou mesmo do seu físico. Isto me parece um movimento da humanidade, como conscientizar as pessoas dos perigos envolvidos quando somente podemos olhar para os prazeres e facilidades que estas tecnologias podem gerar? De fato, há uma tendência auto-destrutiva da humanidade nesse sentido. Mas eu penso que isso é devido a uma falta de conhecimento do que vêm a ser esses aparelhos, a influência que eles exercem em crianças e adultos, e como a vida pode ser muito melhor sem eles - ou pelo menos com seu uso restrito e dirigido para o que realmente vale a pena. Meu livro (ver índice e foto da capa em meu "site" em www.ime.usp.br/~vwsetzer, onde se encontram outros artigos que não estão no livro) tenta justamente conscientizar as pessoas do que são esses aparelhos e o que deveria significar a educação de um ponto de vista humano global. Uma vez que a Televisão é a antítese da educação, por que a educação à distância "telecursos" etc. continuam a existir, mais do que isso, estão se proliferando? Não sou contra cursos à distância para adultos, quando não há possibilidade de os participantes terem um curso com professor físico à sua frente, com o qual possam trocar idéias frente à frente, e que dirija o ensino para os alunos específicos com os quais lida diretamente. Mas sou absolutamente contra ensino à distância, de qualquer forma, com crianças e jovens. Por outro lado, qualquer sucesso de ensino à distância quando existe a alternativa de ensino tradicional, pode indicar que este último está falido e deveria mudar. Só que, como se pode ler em meu livro, minha receita para resolver essa falência é torná-lo mais humano, e não mais tecnológico como está acontecendo. Uma das causas para essa falência é o fato de o ensino tradicional ser excessivamente abstrato. As crianças e jovens não têm um intelecto suficientemente desenvolvido para serem atraídos por abstrações que não têm nada a ver com a realidade e não têm aspectos artísticos que possam atrair seu senso estético e suas emoções. O ensino à distância é ainda mais abstrato, e provavelmente o que atrai nele é o cosmético que o acompanha, e não seu conteúdo. Finalmente, onde estão as provas de que os telecursos funcionam? Eles proliferam por causa da enganação de que eles são efetivos. Provavelmente empregam incentivos fiscais, sem se fazer uma análise do custo-benefício. O contato ou o aprendizado da criança com o computador não deve ocorrer antes dos 14 anos segundo sua visão e segundo a metodologia Waldorf, pois só a partir daí desenvolvem o pensamento abstrato formal. O ensino formal não propicia às crianças este espaço único de desenvolvimento, nossas casas tão pouco, nem todas as escolas tem a preocupação de uma aprendizagem mais lúdica. Como modificar hábitos sociais quando estamos inseridos na mesma até o pescoço? Não seria utopia? Não tenho esperança de mudar o mundo. Tenho esperança de conscientizar e mudar as pessoas que sentem ou pensam que há algo de errado no modo como a sociedade está evoluindo (ou involuindo…), e que acham que a educação - no lar e na escola - é o meio mais importante para a mudança social. Tenho esperança de tocar os corações dos que sentem que a infância precisa ser urgentemente resgatada, mas não sabem por que ela foi roubada das nossas crianças e como fazer para mudar essa situação. Fale-nos sobre a TV. Como esta vem prejudicando crianças e adultos? Penso que o ponto mais importante da TV é o de ela forçar um estado de sonolência, semi-hipnótico no telespectador. Em meu livro eu explico o por quê disso ocorrer e cito literatura a respeito. Como conseqüência, existe um abafamento do pensamento. É só comparar com a leitura: quando se lê um romance, é preciso imaginar os personagens, o ambiente e as ações, isto é, pensar sobre eles. Ao ler um texto científico ou filosófico, é necessário associar conceitos, isto é, pensar. Ao ver TV, a imagem já vem pronta, de modo que não há nada a imaginar. Quase não é possível associar conceitos pois tudo tem que ser muito rápido, senão os telespectadores passariam do estado de sonolência para o de sono profundo, o que seria um desastre para as emissoras que, como mostrei, vivem de vender audiência aos anunciantes. Experimente-se ver um programa e prestar atenção em tudo, pensando em cada imagem e no que é dito: a pessoa ficará rapidamente exausta, e logo "desligará" sua atenção. Assim, a TV prejudica a capacidade de imaginar e pensar. Como o telespectador não está plenamente consciente, tudo o que é transmitido é gravado em seu subconsciente, afetando seu comportamento sem que ele perceba. É por isso que se gastam fortunas na propaganda pela TV: ela funciona. Em 2000, do total de 12 bilhões de reais de gastos com propaganda em todos os meios, 63% foi para a TV. Ora, uma grande empresa não gastaria dezenas de milhões em propaganda se isso não desse retorno. Dá retorno pois a TV condiciona, não educa. Que miséria de mentalidade, achar-se que ficar em estado de sonolência é um lazer! Lazer deveria ser construtivo e instrutivo, e não um desligamento interior. A propósito, os joguinhos eletrônicos são ainda piores, pois condicionam não só pela gravação das imagens no subsconsciente, mas pelo treino de ações, como mostro no artigo sobre eles e as terríveis conseqüências disso. A tecnologia está dominando o homem? Completamente, como mostro no artigo do livro "A missão da tecnologia". Em lugar de se usá-la com consciência para nosso benefício, ela está sendo usada para satisfazer o egoísmo e a ambição de alguns fabricantes e comerciantes, que apelam para os instintos mais baixos - aqueles que deveríamos sublimar para nos tornarmos mais humanos e menos máquinas e animais -, na ânsia de atrair os consumidores. Mas o pior é que a tecnologia, usada sem consciência, não produz apenas desperdícios, poluição, etc. Ela degrada o ser humano, fazendo-o comportar-se e encarar-se como máquina. As conseqüências sociais já estão aí para serem vistas, e se a coisa continuar assim, o futuro será muito mais terrível.

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