
A Ideologia compreende a Ideologia em geral nos seguintes termos: i) a Ideologia não tem
uma história própria, pois não passa de devaneio consciente, produto arbitrário
de uma imaginação desordenadamente a-histórica, e como o inconsciente para
Freud, “tem uma estrutura e um funcionamento tais que fazem dela uma realidade
não-histórica, isto é, omni-histórica, no sentido em que esta estrutura e este
funcionamento se apresentam da mesma forma imutável em toda a história”; ii) as
ideologias “têm uma existência material”, ou seja, são formadas por aquelas
práticas sociais necessárias para a reprodução das relações sociais de
produção; iii) as ideologias operam sobre e dentro dos indivíduos através de e
como mecanismos ideológicos de sujeição, transformando “os indivíduos em
sujeitos”; iv) a função geral desses mecanismos é a de sujeitar os indivíduos
às exigências da produção social e de suas relações conseqüentes, fazendo-os
crer na naturalidade da existência dessas relações, bem como na naturalidade
dos indivíduos ocuparem nessas relações o lugar que ocupam / devem ocupar: “os
indivíduos são sempre/já sujeitos”. A Ideologia é, em verdade, uma
estrutura básica, uma engrenagem que determina as diversas manifestações
ideológicas: seus mecanismos sujeitam os indivíduos fazendo-os reconhecerem-se
enquanto sujeitos sociais de uma concretude falsa e naturalmente sujeitados por
ideais abstratos, mas tidos como ‘reais’ e absolutos. Essa sujeição não se dá
apenas no nível das idéias (do conhecimento, do pensar), mas tem existência
real nas práticas sociais e nas instituições: são os Aparelhos Ideológicos de
Estado – os AIE’s.II. Os Aparelhos Ideológicos de
EstadoPara Althusser o
Estado em geral é composto pelo governo, a administração, o exército (i. é, as
forças militares), a polícia, o sistema penal, o sistema judiciário, etc, e que
formam o seu conjunto de mecanismos repressivos, vale dizer, aquele aparato que
pode e deve usar da força moral, psicológica ou física para reprimir
resistências ou oposições, quando necessário ou “ao menos em situações limites”:
é o Aparelho Repressivo de Estado. Já os AIE’s são aqueles aparelhos que,
“...sob a forma de instituições distintas e especializadas”, e sem se
apresentarem como públicos mas, antes, como privados ou ‘civis’, complementam
necessariamente o sistema estatal de dominação, através da Ideologia. Althusser
nos dá um rol intuitivo, parcial e provisório dos AIE’s: jurídico, familiar,
político, religioso, sindical, de informação, cultural, e... escolar. Se o
corpo repressivo do Estado tem por função coagir os indivíduos a aceitar e
participar da dominação social de uma ‘aliança de classes’ sobre as demais
classes sociais, os AIE’s têm a função ativa da “reprodução das relações de
produção”, que devem ser cridas em sua ‘naturalidade’, já o vimos. E a
reprodução das relações sociais deve se dar não somente no nível da produção
material, mas também no nível da (re)produção ideológica. Como “os indivíduos
são sempre/já sujeitos” – mesmo antes de nascer, o lugar do futuro
indivíduo/sujeito já está reservado no AIE familiar –, eles ocupam seu lugar
definido na produção e, enquanto sujeitos, “caminham por si”. Pois o sujeito,
submetido ao Sujeito, realiza a Sua vontade abstrata ao realizar a sua vontade
‘concreta’. É aí que reside o componente positivo (não em juízo de valor, mas
no sentido afirmativo, propositivo) – que tem realidade material nos AIE’s – da
dominação: o sujeito não é reprimido pela sujeição, pelo contrário, é criado
por ela; a peça da engrenagem é abandonada à sua própria vontade, adquirindo
autonomia, e isso não causa nenhum prejuízo ao funcionamento da máquina – se a
peça não estiver defeituosa – uma vez que essa vontade é já determinada pelo
próprio mecanismo da engrenagem. E se alguma peça apresenta defeito, o ‘controle
de qualidade’ do sistema (o ARE) toma as providências repressivas necessárias:
correção, isolamento ou eliminação.
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