20 de set. de 2009

LA TETA ASSUSTADA“

Por Por Daniela Gillone LA TETA ASSUSTADA“La teta asustada” conta a história de mulheres peruanas que foram estupradas durante a ditadura militar no Peru, mostrando o trágico do imaginário andino e a conflituosa relação das diferenças sociais no país. O filme é um espelho da realidade vivida no Peru, onde a dominação por parte da população privilegiada sobre os nativos é revelada com a paisagem típica do subdesenvolvimento peruano, com andinos entre as colinas e as longas escadarias que levam a outras colinas, em contraste com o contexto urbano da cidade Lima, com pessoas letradas e endinheiradas. A ficção que a cineasta peruana Claudia Llosa constrói com a complexa relação entre mãe e filha, originárias das comunidades indígenas andinas que migram para a cidade, deixa latente o pânico gerado pela violência sexual. É através da doença “la teta asustada”, contraída pelo leite materno, que a personagem cria um universo próprio como forma de se proteger do mundo externo. A subjetividade vivida por Fausta, com canções e gestos entre as pérolas e flores que guarda, e a aspiração por levar o corpo da mãe ao povoado onde viveu, se aproxima de Selma, personagem vivida por Björk, em Dançando no Escuro (Dancer in the Dark, 2000). Ambas as personagens que vivem entre situação trágica e mundo imaginário têm um objetivo que as desafiam na superação da realidade: Selma com a dança e encenações ante a necessidade de conseguir dinheiro para tratar a doença do filho, e Fausta, com flores, pérolas e canções que a encorajam no trabalho como doméstica para financiar o funeral da mãe. O filme inicia com planos-sequências da mãe de Fausta, entoando canções andinas, e da casa em que mora com o tio que organiza festas de casamentos. Aparece também o momento em que a família está fazendo os preparativos para o matrimônio da filha, e Fausta desmaia por presenciar a morte súbita da mãe. Tal situação a leva ao hospital e a obriga a enfrentar seus medos para conseguir realizar um funeral digno e também se livrar do segredo que oculta em seu corpo: uma batata na vagina como escudo para se proteger de um possível abuso sexual.A frase “Los infectados (por la teta asustada) nacen sin alma, porque del susto se escondió en la tierra” proferida pelo tio de Fausta, para justificar ao médico o porque da sobrinha ter introduzido uma batata na vagina como defesa, mostra a relação do povo andino com a terra e também o que o acontecimento, a violação de mulheres durante o conflito armado entre as décadas de 60 e 70 no Peru, fez com o imaginário popular andino. O susto que essas mulheres andinas passaram, ao serem violadas e engravidadas por militares, se torna uma patologia que para nós é vista como um mito, mas no imaginário andino toma uma proporção capaz de trazer os sintomas para o leite materno. O susto que se escondeu na terra, e por conseqüência o sintoma de Fausta, é revelado na relação dramática entre seu espírito, que traz o pranto vivido pela mãe, e seu físico, que traz uma infecção por ter introduzido uma batata na vagina para se proteger a qualquer situação que possa remetê-la ao passado da violação. A força que Fausta concentra para conquistar seu objetivo; trabalhar como doméstica para conseguir dinheiro para o enterro da mãe, que é embalsamada e guardada dentro da casa, é o que engrandece a personagem que, no final, consegue trazer rupturas aos padrões de seu comportamento construído como filha de mulher andina que foi violada e contaminada pelo medo. A história trágica ganha beleza e poesia com o realismo mágico. A dura realidade do medo que Fausta sente por ter de andar sozinha entre a cidade e colinas, trabalhar na casa de uma mulher rica e interesseira, não se aproximar da presença masculina, e tirar o tumor que a batata causou em sua vagina se dissolve entre as dunas, quando salta aos gritos, carregando sua mãe embalsamada até o banco do mar. É essa rota de sua liberação que nos traz a necessidade de conhecer parte da história andina. Para opovo andino, a batata, quesignifica vida, é a base de sua alimentação. No mundo simbólico de Fausta, o princípio do povo andino é o fim para sua proteção. São vários os significados atribuídos à batata no filme: desde sua utilização nos quintais e nas festas de matrimônios como a de proteção em uma vagina jovem, mostrando o imaginário coletivo do medo sobre a violência sexual que houve no conflito armado. A proposta de Llosa não se opõe ou inventa uma realidade, só faz um recorte de uma memória que ficou esquecida para o peruano. A diretora comenta que seu interesse por criar a ficção surgiu ao conhecer a história do conflito armado, enquanto pesquisava em uma biblioteca nos Estados Unidos sobre o povo andino. Antes de realizar o filme, Llosa constatou que os anos de ditadura no país deixaram as mulheres violadas tomadas por um susto que, no imaginário andino, ainda permanece sobre a terra. O filme também revela o matrimônio como necessidade social do povo andino, mostrando como parte da população se casa. É com as cenas das festas populares que a diretora constrói, com realismo mágico, o imaginário andino. Mostra a felicidade desses povos se casando, em contraponto à negação que a personagem principal constrói para aspirar um matrimônio. Daniela Gillone é jornalista e coordena o curso de extensão universitária Cinema e Identidade, promovido pelo Memorial da América Latina. danielagillone@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

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