5 de out. de 2009

Boaventura de Sousa Santos

Aluno: JOAO PEREIRA DA ROCHA FILHO 04/10/2009 as 10:25:43 A obra “Um discurso sobre as Ciências” apresenta em suas primeiras páginas a crise de identidade das ciências no tempo em que vivemos. Esse assunto será desdobrado ao longo da obra, sendo analisados aspectos históricos das ciências naturais e sociais, bem como o atual contexto cientifico em que nos encontramos e as perspectivas para o futuro. O homem, ao longo de sua história, firmou a convicção de que a ciência evolui pelo acúmulo linear do conhecimento, isto é, considera-se, em geral, que há um acréscimo de conhecimento a cada passo da ciência. Nesse caminhar, a ciência, segundo a concepção tradicional, vai acumulando as experiências bem sucedidas e suas teorias respectivas descartando as que são consideradas não-científicas, não por acaso o positivismo caracterizou-se como uma das correntes de maior impacto e longevidade no longo processo da construção da ciência. Várias concepções se formaram ao longo da história da ciência sobre o processo de construção intelectual de conhecimentos. Dentre as concepções filosóficas de longo alcance e forte influência na construção científica até o século XXI, se destaca o positivismo. Essa corrente de pensamento tem sua origem no empirismo desde a Antiguidade. Porém, as bases concretas se instauram na Idade Moderna, que tem início no século XVI, solidificando-se no século XVIII. O contexto histórico é o do capitalismo de Estado e da constituição da classe burguesa, fazendo convergir interesses econômicos, políticos e ideais de racionalidade. O modelo de racionalidade fundamenta-se nas ciências naturais, tendo como centro a matemática e, por conseqüência, passa a ser regida por um rigoroso determinismo, apoiando-se na formulação de leis à luz de regularidades observadas. Nessa perspectiva, que caracteriza o paradigma das ciências modernas, “o rigor científico afere-se pelo rigor das medições” e conhecer passa ser compreendido como quantificar, dividir e classificar (SOUSA SANTOS, 1988, p.5). Esses princípios epistemológicos e metodológicos são restritivos. Caracterizando-se como um modelo autoritário e que não corresponde às necessidades humanas, opondo-se duramente ao senso comum e afastado da natureza e das carências humana. Esta é a maior maior crítica que Boaventura remete à estrutura em que esta ciência constituiu-se ao longo dos tempos. Baseando-se em um mundo totalmente cognoscível e organizada a partir de uma ordem cronológica, espacial que a tornou verticalizada, fundada numa dinâmica que ele chama de “determinismo mecanicista” e que tem permeado diretamente no comportamento e imaginário da sociedade. “Um conhecimento baseado na formulação de leis tem como pressuposto metateórico a ideia de ordem e de estabilidade do mundo, a ideia de que o passado se repete no futuro” A ideia de um mundo comparável a uma máquina, cujas operações são determinadas através de leis físicas e matemáticas; a idéia de ordem e de estabilidade do mundo. - No século XIX, criam-se condições para emergir as ciências sociais, esta diferenciada do modelo mecanicista das ciências naturais, para ser empíricas. Os primeiros obstáculos aparecem entre as ciências sociais em relação ás ciências naturais, pois aquela reivindica um “estatuto epistemológico e método próprio, com base na especificidade do ser humano e sua distinção polar em relação à natureza” (p.34). As ciências sociais procuraram munir-se de ferramentas metodológicas próprias, pois “será sempre uma ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais” (p.38) Uma vertente defendia a aplicação de um modelo de ciências sociais erigido a partir de pressupostos das próprias ciências naturais, tendo portanto um caráter de conhecimento universalmente válido, A segunda vertente irá defender uma metodologia própria, na qual as dificuldades em compatibilizarem-se os dois campos das ciências, naturais e sociais, são instransponíveis. Apesar de serem aparentemente diversas, as duas correntes acabam por dar maior relevância às ciências naturais do que às ciências sociais. De fato, a segunda vertente serviria como um indício da crise do modelo até então hegemônico. O autor levanta quatro justificativas para evidenciar tal crise: a teoria da relatividade, a mecânica quântica, os questionamentos da matemática e os avanços tecnológicos da microfísica, química e biologia. Quanto ao primeiro factor teórico, Einstein (domínio da astrofísica) revolucionou as concepções de tempo e espaço absolutos de Newton, dando à luz o conceito da relatividade da simultaneidade, Esta teoria contraria a concepção de tempo e espaço absolutos de Newton surgindo uma nova ideia de tempo e espaço, e com ela a noção de relatividade dos fenômenos. segunda condição que expõe a crise deste paradigma científico remete-se à mecânica quântica que evidencia a impossibilidade de se observar um objeto sem que haja interferência nele, resultando que “o objeto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou” (pág. 25) O terceiro factor surge com as investigações de Gödel que vêm demonstrar que o rigor matemático também carece de fundamento, e isso põe em causa, também, o rigor das leis da natureza. A quarta e última condição teórica, representada principalmente pela teoria de Prigogine, está relacionada à quebra do modelo de mecanicismo linear do modelo newtoniano. Há, a partir da segunda metade do século XX, o desenvolvimento de um movimento convergente entre ciências naturais e sociais, caracterizado em grande parte pela transdicisplinaridade, designado por Jantsch como o “paradigma da auto-organização” (7) Boaventura propõe um modelo a qual denomina “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente” (pág. 37). ele dá conta em meio a um aparato científico tão abrangente, as perguntas e questionamentos tão complexas já não são capazes de interrogar tamanho processo de desenvolvimento da sociedade. Ele acredita, assim como Einstein, que em questionamentos simples como os feitos por uma criança são capazes de nos fornecer esclarecimentos tão próximos da realidade que nos forneceria mais segurança à tantas perplexidades do mundo moderno. Essas crianças devem estar presentes em cada um de nós. para o autor deve vigorar os estudos humanísticos que, não ocorrerá sem que as humanidades sejam, também, profundamente transformadas, defende que todo o conhecimento é também social e introduz “conceitos de historicidade e de processo, de liberdade e de autodeterminação e até de consciência” (Santos, 1990, p.38). Ainda para BoaventuraTodo o conhecimento é local e total” (Santos, 1990, p. 46). A ciência moderna tem a tendência a especializar-se cada vez mais, à medida que o conhecimento progride mas para ele ele é hora de estabelecerlecer a idéia de que o conhecimento científico deva fundamentar-se na conciliação de diversas áreas das ciências existentes da atualidade, enfatizando a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade para alcançar uma dimensão mais aproximada do real. As fronteiras entre as áreas de conhecimento devem limitar-se a pequenos detalhes, visto que todo e qualquer conhecimento desenvolvido pelo homem deve ser utilizado para promover-lhe uma vida decente.

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